terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Mysen, 26 Fevereiro 2008

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Caros leitores. Bem sei que me ausentei por um período maior do que o costume, sendo que a cadência tem sido diária. Mas tenho boas razões. Apareceu por aí o fim-de-semana, e antes dele o meu síndrome de Quinta-Feira, que nem sempre me permite escrever, dado o cansaço que sinto por vezes, neste dia.

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Pois Sexta-Feira passou, e avizinhava-se o simpático fim-de-semana. Lembrei-me de perguntar se algum dos elementos da equipa era de Oslo, e quando descobri que Th era, pedi-lhe boleia. Assim poupei os 15 euros que me levariam até à capital. Pela viagem fomos conversando, e ele foi-me contando o seu percurso, a sua VIDA. Como não vive mesmo em Oslo, combinamos que beberíamos uma cerveja em sua casa e depois me levaria ao metro. Essa cerveja acabou por significar 3 ou 4 horas de conversa. Sentados na sua sala, sem televisão, ou sequer música, por ali ficamos. Ele ia-me dizendo que não queria que eu me atrasasse, ao que eu respondia dizendo que estava bem, e que quando estava bem, ficava mais um bocado. Às tantas são 9h, e pergunto se não quer vir comigo à festa na residência da minha anfitriã. Lá fomos, e foi porreiro. Fomos de táxi, e depois ele voltou da mesma maneira e eu por lá fiquei. Na residência estava o pessoal todo de Erasmus, e alguns locais, com quem ia travando conhecimento.

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No dia seguinte a minha anfitriã voltaria para a sua cidade, e eu pus-me a caminho do meu próximo destino, um anfitrião espanhol e uma anfitriã eslovaca. Depois de nos conhecermos, comer alguma coisa, deixei as minhas coisas e fui dar uma volta pela cidade. Ainda não fui pesquisar realmente o que há para ver, através de sites ou afins, simplesmente caminho livremente, encaminhando-me para onde quiser. Quando voltei a casa, bebemos uns copos entre conversas, e depois fomos beber uma cerveja. O anfitrião espanhol ia fazer o turno da anfitriã num bar, a apanhar copos. Fiquei espantadíssimo ao saber que ganham 18 euros por hora, mais gorjetas, a apanhar copos num bar. Em Portugal seria, certamente, 2,5 euros por hora… A noite foi porreira, conheci algum pessoal, e como qualquer noite nórdica, acabou pelas 3-4h da manhã, altura em que voltamos para casa.

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No dia seguinte o pessoal de casa estava ocupado a arrumar a mesma, já que iam mudar de pouso. Não gostavam do senhorio, as condições não eram espectaculares, e pagavam 500 euros por mês. Bem, pensando que 500 euros significam apenas 25h de trabalho, nem acho assim tanto…

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A cabeça estalava um pouco e decidi apanhar o comboio das 14h em direcção a Mysen. Quando cheguei dormi umas horas e depois entretive-me com o “I now pronounce you Chuck & Larry” – não é mau. Dá para rir um pouco. Mas não tinha cabeça para escrever… Assim como ontem, Segunda, também não tinha. Passei o dia todo um bocado cansado, razão pela qual fui dormir às 21h30! Não me lembro de me ter deitado tão cedo. Mas sabia ser necessário para passar a semana bem. O ponto alto do dia foi ter ido andar de karting! Como vou começar a ter, espero (ainda não me contactaram), lições de Norueguês, só pude ir neste dia. Como disse noutro qualquer post, foi tudo pago. Éramos 3, a correr 1h30, alternando de 15 em 15 minutos. Tinham-me avisado que era desgastante e eu, sinceramente, duvidava um pouco. Isto, claro, até sair da minha primeira corrida e quase não sentir os braços! Estas corridas durarão por uma época, sendo 10 equipas (5 de cada vez) a competir entre si. Ontem ficamos em segundo, e poderíamos ter ficado em primeiro, não fosse o português, de cada vez que corria, perder uns preciosos segundos. Eu avisei que nunca tinha corrido, e eles sorriram, dizendo que o que interessa é a diversão. Claro que sim, mas custou-me, nas últimas voltas, em que ia em primeiro, ver o carro número dez deslizar ao meu lado e quase dizer-me adeus. Ok, coisas práticas… o melhor tempo de Tr foi 33.632 segundos numa volta (e o segundo melhor de todos); o de Tst foi de 33.902, e o de Tp (eu) foi de 34.833. Não parece muito, mas até é. E falo dos melhores tempos, não da média. De qualquer maneira, foi muito porreiro. Para festejar, na volta, jantamos no MacDonalds, hehe.

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Hoje, vale a pena referir, de imediato, a prestação de 1 na reunião matinal. Passou hoje para a Fase 2 (depois de um ano de tratamento), por isso sabia que teria de ir ao centro. Veio preparado, e quando chegou a sua vez, abandonou a sala, em que voltou a entrar uns segundos depois, acompanhado dum rádio, que de imediato começou a tocar uma qualquer música que sugeria strip-tease. Assim o fez, e quando tira os boxers mostra uma espécie de fio dental feito com fita adesiva, que deixou toda a gente, incluindo eu, a rir a bandeiras despregadas.

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Às 10h juntei-me, pela primeira vez, ao “Contact-Group”. Todos se sentaram em círculo, e receberam os “Slipps” que tinham escrito. O discurso ia surgindo, e eu ia tendo a habitual dificuldade em acompanhar. Mas percebi que Th pergunta quem quer confrontar quem. Vejo 2 dizer que deseja confrontar 3. Sentam-se frente a frente, 2 agarra a cadeira com ambas as mãos, 3 coloca as suas em cima das coxas, palmas viradas para cima. Vejo 2 a hesitar, respirar fundo, até que, num momento, começa a dizer qualquer coisa que, apesar de não perceber, percebo, aos berros. Sabia que seria assim, mas não estava bem à espera, e acho que até me assustei. Apesar de disfarçadamente, acho que eu era a única pessoa incomodada ali. Natural, nunca tinha participado. É que o ambiente era, para mim, terrível, com 2 a gritar, a sua cara completamente vermelha, e eu sem saber o que dizia. Bem, que não se pense que são meros insultos sem sentido… o que ele dizia, soube mais tarde, e já na altura imaginava, era construtivo, mas a ideia desta actividade é o libertar de sentimentos que não devem ser libertados no dia-a-dia, num ambiente controlado, e onde se pode expor o desconforto. Mais tarde, ao jantar, 3, que tinha sido confrontado, pergunta-me se eu tinha gostado da actividade. Ao responder que sim, ele diz que tinha sido muito bom, neste dia. Percebe-se aqui a dinâmica de tudo isto, pelo facto de a pessoa que foi confrontada (inclusive por mais duas pessoas, de seguida), ter achado que foi um bom grupo…

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À tarde, depois do almoço, tivemos o seminário. Passei-o a estudar Norueguês mas, a dada altura, e para meu espanto, o tema chama-me a atenção, e consigo perceber, a custo e com muita concentração, mais ou menos o que estava a ser discutido. À saída, quando Tr me pergunta o que tinha achado, digo-lhe que me tinha parecido que ele falava, nessa altura, de psicólogos, psiquiatras, e outros profissionais de saúde. Diz que sim, e pergunta o que eu tinha percebido. “Well it seemed that you… were saying… not so good things…” – ele sorri e diz que é verdade. Digo-lhe que de vez em quando sinto alguma resistência em relação a psicólogos ou psiquiatras nesta instituição, e que sinto também que, de certa forma, sinto que se sentem ameaçados. Peço desculpa caso esteja errado, e digo que é, simplesmente, o que sinto. Ele diz que tenho razão, e explica dizendo que a razão pela qual se sentem ameaçados se prende com o facto do governo estar a influencia em demasia, como tirando a CT do sistema de “social welfare”, e passando para “health care”, e outros problemas semelhantes, como impondo regras, leis, que se apropriam, por exemplo, a um hospital, mas não a uma CT. Outra razão é o facto de muitos profissionais de saúde mental interferirem duma maneira perversa que pode influenciar, na negativa, em todo o tratamento e sistema que têm, e que tem tido sucesso. A isto respondo dizendo que nem todos os profissionais de saúde são iguais, e se simplesmente entrevistarem, nem que seja um milhar deles, hão-de encontrar alguém que consiga dar o seu contributo, respeitando o sistema, e respeitando o papel dos ex-toxicodependentes que aqui trabalham, conseguindo assim um equilíbrio, e que tudo corra bem. Ele diz-me “yes, of course, and that’s one of the reasons why it wouldn’t be so impossible for you to work here…”. De seguida, como tantas vezes connosco tem acontecido, continuamos a conversar, começando a conversa em “A”, e acabando em “Z”. Mas fiquei a pensar, por exemplo, que a resistência que se poderia encontrar em relação aos profissionais de saúde, concerteza será muito menor em relação à resistência, em Portugal, em ter ex-toxicodependentes a trabalhar. Estou a falar um pouco de cor, mas… eu próprio sou um exemplo, talvez. Se me perguntassem antes, acerca disto, nem me passaria pela cabeça tal… Todavia, não tardei a perceber o quanto sentido faz. Estou a ter uma lavagem cerebral? Não, os resultados estão à vista.

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Voltei às corridas, e senti um pouco o corpo a queixar-se dos longos dias sem treino. Uma volta bastou para me deixar com a saborosa sensação de casaco que me deixa calmo e relaxado.

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Por aqui vos deixo, meus caros, e até amanhã…

3 comentários:

Catarina M disse...

Estou com saudades tuas!
Pensei que nesta altura não tivesse tempo de as ter, nem de sentir qualquer outra coisa. Mas estes são tempos de despedidas, de lágrimas e de lembranças, e não sou capaz de desligar.
Já sei que estás a pensar (despedidas pq?!) mas toda a envolvência da "ultima queima" está a deixar (ainda mais) depre!
Enfim... Era para te deixar o beijinho da praxe, o "tenho muitas saudades tuas" e o "porta-te mal, mas não muito" por aí.
Beijoca grande.

Anónimo disse...

fa

pedro disse...

acho que o "carpe diam" se pode aplicar a ti letra por letra...have fun :)