quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Mysen, 14 Fevereiro 2008, 20h29

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Ufa, são 20h30 e os meus olhos estão a ameaçar… Acordei hoje às 7h20. Ia, com T1, a uma reunião em Halden. A viagem demorou cerca de uma hora, hora essa que passamos a conversar e a ouvir Bruce Springsteen. T1 iam-me falando do propósito da reunião, como funciona, quem participa, etc. É uma reunião com os diferentes sectores de saúde da região, onde todos se põem a par do que se passa e discutem assuntos pertinentes. Demorou cerca de uma hora e meia, e não ia percebendo o que se discutia, por isso, na viagem de volta T1 mo contou. Após isto continuamos a conversar, falando da sua história de VIDA, da rede de amizades nem sempre fácil de um toxicodependente recuperado e afins.

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A dado momento em que o assunto andava À volta de faltar algum pessoal, digo que, caso não encontre nada em Portugal, não descartava a hipótese de concorrer para alguns sítios aqui. Ele pergunta-me “Why not Phoenix?” – sugerindo-me não uma certeza, claro, mas uma… possibilidade. A resposta que me saiu da boca foi que, caso fosse possível, não pensaria duas vezes. Pensei na minha própria resposta. Acho que, a ficar na NR, claro que o que mais queria era a Phoenix. Mas essa possibilidade assusta-me. Não a Phoenix, mas ficar aqui. Por mais que se ganhe, por melhor que seja a qualidade de VIDA, prefiro ganhar 800 euros (por exemplo) em Portugal que 2 ou 3 mil aqui. Estou a gostar muito de cá estar, não há dúvida, e podia ser feliz aqui. Mas não sou daqui. As minhas raízes esticam-se, mas não partem… Além da óbvia razão que se prende com a Graciete, a minha namorada, também valorizo muito os meus amigos. Com a família, sinceramente, acho que é diferente. Claro que se sente saudade, mas um pai será sempre “o” pai, uma mãe “a” mãe, um irmão “o” irmão. As relações não se deterioram pela distância, creio. Claro que me podem dizer que as amizades sólidas também não, mas receio que não seja difícil, com o passar dos anos, ver algo se perder… Bem, não sei… são pensamentos e hipóteses que, de quando em vez, assaltam a minha mente e deixam pequenos pontos de interrogação…

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O dia apresentava-se bem disposto, e após o almoço, sendo Quinta, fomos com o pessoal da primeira fase dar uma volta. Levei um dos carros, e ao invés de ir tomar um café, desta vez fomos a uma barragem, a meia hora daqui. O sítio é porreiro, mas não era propriamente uma viagem de turismo. T1 diz-me, a sorrir, que era o último sítio onde um posto de turismo nos mandaria. Sentamo-nos numas escadas e por aí ficamos cerca de uma hora a conversar. Sinto, como T1 tinha dito, que o pessoal da Motivação (doravante chamarei pelo nome ao que tenho chamado o estranho nome de “fase 1 dentro da fase 1”…) aprecia estas saídas.

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Quando chegamos, já o relógio passava das 15h30, fui falar com T2, que me disse que não iríamos amanhã à Clínica, mas na semana seguinte, semana essa onde, em princípio, irei também visitar a prisão. Às 16h fui dar uma corrida. Mais uma vez não atinei com o sítio, pelo que voltei para trás e fui explorando. O sentimento é o mesmo do dia anterior. Contudo, fiz algo diferente, e que nunca tinha feito. Quando estava quase a chegar à CT, o meu leitor de mp3 presenteia-me com “Woman”, dos “Wolfmother”. A energia atravessou-me, voltei para trás e continuei a correr, mas a dada altura abrandei, no que à velocidade diz respeito, mas dançava, correndo, saltando, mexendo cada músculo. Tenho a certeza que quem me visse e não me conhecesse pensava que tinha acabado de mandar uns speeds, era doido e ridículo. Mas, na verdade, não me interessa assim tanto, e o sentimento é espectacular e libertador. Rebentou-me todo, e tive de ficar, ao chegar, uns 10 minutos deitado na relva a ouvir “Reckoner” e “Planet Telex” dos “Radiohead”.

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Banho tomado, jantei. Depois da habitual meia hora de Scrubs, vim estudar Norueguês, ver um dvd do George de Leon, e agora aqui estou.

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Tenho escrito todos os dias, o que é fantástico, sendo que das coisas que mais queria era acabar, duma vez por todas, um romance. Todavia, quando dei por ela, estou a escrever dois. Um cujo objectivo era ser apenas um par de estórias no blog, e o outro é o romance que comecei há anos! Agora que penso nisso, acho que estou a escrever 4 livros ao mesmo tempo :p tenho escrito estórias soltas; o romance “antigo”; o romance “novo”; e, ainda que num outro domínio e mais pessoal, este diário que, antes desta entrada, já leva 49 páginas! Bem, não há mal nenhum em criar, pelo pior, ou melhor que saia… Acho que no final disto tudo, quem tiver a coragem de me ler com alguma regularidade, vai saber quase tanto como eu como é viver na Noruega e como funciona uma Comunidade Terapêutica.

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A propósito… ontem, em conversa com o director e o T1, o primeiro diz-me que foi investigar o site de que lhe tinha falado, o www.couchsurfing.com. Diz que, muitas vezes, quando visita outras comunidades, Europa fora, residentes e, pelo que percebi, técnicos, perguntam se, caso viessem à Noruega, poderiam passar uma semana na CT. Como estes, muitos outros, que gostariam de conhecer outras comunidades, que gostariam de viajar um pouco, abrir os horizontes. Todavia, há a questão monetária, que muitas vezes é um entrave. A ideia que sugeriu, e de que implicitamente me incumbiu, foi de estudar esta hipótese. Promover o CS em técnicos ou ex-residentes (que estejam “limpos”, claro) permitindo assim uma mobilidade e conhecimento de outras comunidades Europa fora. Achei a ideia brilhante, e vou começar a pensar nisso…

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Bem, são 21h15, e daqui a pouco é a ceia. Hoje não sei se trocarei a minha hora de escrita por um filme que baixei. De vez em quando também não faz mal, certo?...

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21h17

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PS – E aí vão 52 página!... J

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