sábado, 29 de março de 2008

Mysen, 29 Março 2008 (Parte 2)

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É ao Sábado à noite que mais me custa… Não que mais me custa mas, talvez, que menos não me custa… São 22h41, 21h41 em Portugal, e imagino o pessoal “todo” a preparar-se para a noite, sair, ver pessoas, andar por aí. E aqui o Pedro subjugado ao seu mundo de 4 por 2 metros, neste momento, que é o seu escritório. Acho que fui-me habituando a sair apenas a cada quinze dias uma vez na Noruega, mas talvez ir a Portugal a semana que fui me desabituei um pouco, e por isso sinta isso agora. Há uma semana estava a curtir em Estocolmo, há duas em Vale de Cambra, mas agora estou aqui. Não há problema, são opções… e até sei que poderia sair todas as semanas sem problema nenhum, mas o custo de VIDA manda que o faça menos frequentemente. Se bem que o equilíbrio também poderia existir. Poderia curtir a meio gás todas as semanas, mas… bem, prefiro fazê-lo sem “restrições” a cada quinze dias. E uma pessoa adapta-se, habitua-se…

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Vou continuar a minha estória do Positivo, pobre Positivo… A estória já leva 9 páginas, e não me quero alongar muito mais. Acabá-la-ei hoje e depois mergulho novamente no romance ainda Sem Título. Abraço.

Mysen, 29 Março 2008

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Bom dia. Sábado chegou, trazendo consigo um par de horas extra para ficar na cama. Talvez por ter vindo a acumular algum sono residual do fim-de-semana passado, hoje Sábado trouxe consigo não um par mas dois pares de horas extra. Também ajudou, concerteza, o facto de me ter deitado mais tarde. Tenho a culpar Catarina, que me falou de Californication, série a que me viciei, e ao meu gosto pela escrita, que me fizeram alongar as horas para lá do normal. Efectivamente, ontem pus-me a contar o que tenho escrito. Ora tenho a dizer que, desde Outubro (quando publiquei “Estórias em Vão”) escrevi, entre estórias, dois romances e o diário a Noruega, a módica quantia de 400 páginas! J Nada mau! Tenho escrito umas estórias que fogem um bocado ao estilo normal, e em conversa com a Graciete, esta perguntou porque não punha num livro essas estórias com o mesmo estilo. De início foi pronto em dizer que não, mas depois, ao correr, deitei-me a pensar, e questionei-me sobre o sentido que faria estas estórias no meio das outras… Meio a brincar mas, meio a sério, pensei em dar, como título, a este eventual projecto… “Estórias da Arca do Velho”. Que acham? De qualquer maneira, quero concentrar-me no romance antiguinho, que comecei há uns anos, e que tem de acabar. As ideias sobre um final começam a assentar na minha cabeça… Quando cheguei à Noruega tinha 125 páginas e de momento tenho 185. Se pensar que é uma páginas por dia, parece pouco, mas se pensar que se assim fosse sempre escrevia 365 por ano, é óptimo!

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Quinta-Feira, de diferente dos outros dias teve a tarde, em que estive com o orientador um bocado no meu escritório. Ele estava com uns problemas com uns documentos no seu computador, e estive a ajudá-lo a levar a bom cabo o seu objectivo. Sim, é verdade, durante a manhã estive cerca de uma hora à conversa com Tr, com quem ainda não tinha “estado de estar” desde que partira para terras lusas. Conversamos muito acerca da liberdade, e de como todos desejamos ser livres, mas na altura de decidir, renunciamos. Acho que, infelizmente, é verdade. Para além de ser um conceito um tanto ao quanto difícil de definir, acho que com a liberdade vem esse terrível pormenor que é o desconhecido… E como seres humanos que somos, e apenas humanos, morremos de morte do desconhecido. Talvez por isso, sem saber, renunciemos vezes sem conta a ser realmente livres, com medo do que poderia acontecer caso, simplesmente, nos arriscássemos a… querer mais. E passa por quê, ser livre? Não sei, acho que depende de cada um de nós, assim como depende de cada um de nós a maneira como renunciamos a isso… passiva ou activamente, consciente ou inconscientemente…

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Tenho andado a tentar falar com Ta para definirmos o meu novo plano, mas disse-me que tinha umas reuniões, e marcamos para Quinta da semana seguinte. Porém, ontem após a reunião da casa disse-me que poderia falar com Th Segunda e planearíamos tudo. Melhor ainda, pois Th é com quem mais tenho confiança aqui. E com Tr, mas é uma relação diferente. Essa reunião da casa foi um pouco emotiva. Fruto de tudo o que tem acontecido, houve lágrimas, discursos apaixonados, reprimendas… Enfim, tudo isto deduzi da intensidade colocada em cada palavra, e não no seu conteúdo, que era tão fácil de ler como um cego chinês ler um poema português… Sim, e por falar em discurso apaixonado, nessa manhã, durante a reunião de equipa, vi Tr a exaltar-se bastante, sem ser, claro, violento. Simplesmente tudo se calou para o ouvir falar decidido, com uma linguagem gestual a adornar os efeitos das suas palavras. Não sabia o que estava a ser dito, e apesar de apanhar a vibração era mais difícil perceber o conteúdo. No final, quando enchíamos, na sala da administração, uma caneca de café, Tb passa por nós e diz “obrigado” a Tr, o que confirmava a ideia que tinha, fruto de observar a cabeça dos ouvintes a abanar ligeiramente, em sinal de concordância. Quando lhe pergunto o que se tinha passado, diz que discutiam o caso de Tiago, que parece, basicamente, não ter emenda. A Felowship (residentes) está a desistir dele, já não ligando quando ele faz isto ou aquilo mal, e torna-se difícil saber o que fazer com ele. O que Tr alertou foi para o facto de estarmos numa CT, e no imperial que é usar a Comunidade como método (um dos alicerces do modelo), não desistindo. Mais tarde perguntou-me o que achei do seu discurso apaixonado (como eu própria lhe tinha descrito) e eu disse que me tinha sentido um bocado incomodado, provavelmente muito por não saber o que se passava. Não ameaçado, mas incomodado.

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Hoje passei a tarde ora em escrita ora a ver Californication, que já acabei e recomendo. Quero ver se arrumo o quarto, mas não está fácil…

quinta-feira, 27 de março de 2008

Truques

Porcupine Tree - Trains

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Muitas coisas na VIDA funcionam com truques… Seja dar aquele jeitinho na maçaneta que vai fazer a porta abrir, aquela maneira especial de pedirmos um favor, aquela maneira especial… de compreender alguém. Muitas coisas funcionam com truques, e o truque, muitas vezes, é perceber onde ele está. É fácil desesperar e achar que não o vamos encontrar. Encostamo-nos a uma parede branca, sentimos pena de nós próprios, e sabemos, ou achamos, que não há nada a fazer. E é mais uma oportunidade que passa, algo que perdemos…

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Usamos, muitas vezes, estes truques, como maneiras de obter o que queremos. Uma vez confirmada a eficácia, tudo é um sol, o truque será adoptado como método regular, e deixa de ser um truque, passando a fazer parte da nossa pequena, ou até grande, colecção de passear na VIDA. Esquecemo-nos, porém, e falo de todos nós, do último truque que referi. Sinceramente queria referir uns cinco ou seis e acabar neste que considero o mais importante… mas apesar de saber que existem milhares, apenas me lembrei dos dois anteriores… e não queria perder a linha de raciocínio. Talvez me tenha falhado um truque, assim como me está a falhar agora mesmo, fazendo com que me perca nas minhas palavras. O truque de perceber os outros. Escapa-nos muitas vezes, e encostamo-nos a essa mesma parede, mas ao invés de sentirmos essa pena, que nos faz sentir até tristes, encolhemos os ombros, pensando que não havia nada a fazer… Pois claro, se a resposta não estava ao alcance da minha visão, é porque não existe, certo? Nem por isso… Poder-nos-íamos concentrar mais em encontrar estes truques… de perceber os outros. Curiosamente, não é algo tão altruísta assim, pois perceber os outros, e se podermos, até ajudar, deixa-nos com um sentimento no peito de… ia dizer dever cumprido, mas… será o nosso dever, o de perceber os outros, de ser alguém mais do que o próximo humano? Sinceramente que não sei. Posso pensar que sim, mas aí sinto-me obrigado a isso, e isso… não gosto. Sim, acho que prefiro não o entender como um dever, mas simplesmente algo que se pode fazer, sem obrigação… e que sabe bem.

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Mas será assim tão difícil? Seja estender uma mão, seja dar a palavra certa no momento certo, seja nada fazer e apenas ouvir, será assim difícil? Deve ser, pois não o fazemos assim tanto. Acho que me sinto um pouco hipócrita neste momento. Pois concerteza não o farei tantas vezes quantas possíveis, apesar de, confesso, isso ser algo que me agradaria… Não que me recorde de ocasiões em que não o tenha feito, mas sou, como somos todos nós, apenas humano, e por vezes o nosso umbigo é grande… tão grande que açambarca todos os problemas do mundo duma vez só, e aí nada é tão importante como nós próprios. Que porcaria pá…

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Estou a ouvir “Trains” dos Porcupine Tree. Excelente. E faz-me pensar. Confesso, não é a letra, ainda não atentei na mesma. Simplesmente tem essa melodia. Fui lá fora, olhei uns minutos a neve a estender-se… até tão longe quanto os meus olhos podiam observar na gorda escuridão, e ao voltar, fechei a porta. Mas esta porta… tem um truque… E esse truque deixou-me a pensar em truques.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Mysen, 26 Março 2009, 21h42

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Olá caros amigos. Hoje senti mesmo o efeito da corrida. Vejamos… Estava bem, e andei bem disposto o dia todo, sem problemas. Porém, fui dar a minha corrida, que já não dava há cerca de uma semana, tentando correr pelas marcas dos pneus, para não me afogar na neve, e no final, depois de tomar banho… não me conseguia calar. Cantava, cantava. E isso para mim é, como já terei dito, o mais fiel termómetro do meu estado de espírito.

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Pois hoje de manhã, após as reuniões matinais falei com Ta, pedindo para nos reunirmos para falarmos sobre a re-estruturação do meu programa. Isto pois se nos primeiros dois meses estaria com a equipa de entrada, do segundo ao quarto mês estarei mais focado na Fase 1, isto é, no pessoal que já está em tratamento. Apesar de já ter vindo a participar em muitas reuniões dos residentes, espero fazê-lo bastante mais nesta altura. Todavia, como estas não estão a acontecer a toda a hora, vou fazer por continuar com a rotina que já tinha com a equipa de entrada, nas suas reuniões, visitas às alas de desintoxicação e afins. Tenho algumas reservas… bem, não são bem reservas… Mas talvez pena por me estar a ver em reuniões em que os residentes estão a partilhar tudo de si e eu, apesar de ali a uns metros de distância, sem perceber o que dizem… Podia dizer que não se pode ter tudo… Mas falar Norueguês é menos que tudo… Penso se poderia ter começado a aprender em Portugal, mas não. Nos últimos tempos andava sempre a mil com a tese, nunca conseguiria arranjar o tempo para ir a aulas e estudar a língua… Sinto-me um bocado empancado… Se no início aprendi bastante, e rápido, sinto que possa estar a estagnar… Quero ver se amanhã ou depois vou a Askim, à biblioteca e, após me registar, requisito o curso de Norueguês. Desta vez para o usar…

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Passei todo o dia frente ao computador… A meio da manhã apareceu aqui Tb a perguntar se eu conhecia umas escalas que lhe tinham facultado. Disse que não, e após pensarmos no que poderia ser, disse que faria por descobrir. Assim o fiz, e depois de arranjar a escala maior, onde todos esses itens se inseriam, fiquei de a dividir nas 3 grandes dimensões (psicológico, social e motivacional). Pois pensava eu que tinha apenas que cortar e colar… Qual não é o meu espanto quando, ao o fazer, do Adobe para o Word, tudo fica sem formatação alguma. Conclusão: tive de fazer tudo de raiz. Acabei há pouco, mas ainda tenho muito pela frente.

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Recebi hoje uma boa notícia. Talvez se recordem de eu dizer aqui que tinha em vista um voluntariado na Índia, onde “apenas” pagaria 600 euros (em todos os outros sítios pagava bastante mais) para trabalhar num orfanato, e onde me “ofereceriam” estadia e comida. Pois ontem à noite lembrei-me de algo… Pus em acções o meu pensamento, encontrei o que procurava e recebi hoje uma resposta. Que fiz? Procurei por mim, não seguindo os sítios que se anunciam onde se pode fazer voluntariado, e encontrei uma Comunidade Terapêutica em Bangalore, Índia. Não para toxicodependentes, mas para pessoas com esquizofrenia. “Porreiro – pensei – mantenho-me dentro das CTs, alargando a experiência, mas com algo de novo, e tão complexo e interessante como a esquizofrenia!”. Encontrei esta CT numa organização de CTs, e lá lhes mandei um mail, a explicar a minha situação, e a dizer que eventualmente me interessaria trabalhar lá uns mesitos a partir de Setembro, para conhecer outras abordagens. Todavia, havia o problema de não falar indiano. Hoje responderam-me e disseram que podia ir, que me arranjavam estadia, e que a CT funcionava em inglês! Perfeito! Não pago, tenho estadia, funciona em inglês, e é uma CT… na Índia! Disse que ainda não sabia da minha VIDA, que agradecia, e que os contactaria assim que soubesse mais pormenores acerca do meu futuro.

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Bem, Portugal é uma miséria, e o Ricardo… não me lixem… ‘Tá bem que a bola foi colocada e não sei quê… mas foi o segundo…

terça-feira, 25 de março de 2008

Mysen, 25 Março 2008

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Hoje acordei ainda meio cansado. Eventualmente será algum cansaço psicológico que também se faz sentir. É que desde o primeiro momento em que cheguei é como se a cada segundo fosse bombardeado com informação que deixa algumas mazelas… Faz parte de fazer parte duma CT. Para o bem e para o mal. Se nos sentimos felizes com sucessos, que direito teremos de nãos nos sentirmos tristes com insucessos?... Trabalhar com pessoas, com relações humanas é trabalhar na incerteza… Não só nunca temos a certeza se o que estamos a dizer está certo, como nunca temos a certeza do que vai acontecer. Por um lado, isso traz um certo gosto, pois como há sempre a hipótese de algo poder correr mal, faz com que mais nos esforcemos para que não aconteça… mas por outro, por vezes acontece.

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Hoje de manhã, completamente espontaneamente, disse uma frase que considerei engraçada, e que nunca tinha dito. Após ter acordado, lavado os dentes e pegado na toalha, dirijo-me aos chuveiros, onde realmente começaria o dia, já que não há como sentir a água passear no nosso corpo para sentir os olhos abrir… Pois ao entrar, olho pela janela… Como não tinha ainda aberto a janela do meu quarto, a surpresa foi maior… Os meus olhos deparam-se com grandes flocos de neve a cair a toda a velocidade no chão já de si imaculado, e os meus lábios apenas soltam, baixinho… : Hei… como ela neva… – sim, eu sei. Eventualmente não terão achado piada nenhuma, mas eu parti-me a rir.

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Após o pequeno-almoço, tivemos a reunião matinal. Esta foi carregada de risadas, mas eu senti-me mal. Não indisposto, mas senti-me mal, porque sabia algo que eles não sabiam, mas como não podia dizer, nem queria dar a entender que algo se passava, tinha de forçar um sorriso que me custava duma maneira que não consigo descrever. Após esta reunião, reuni-me com o staff, na reunião que geralmente sucede à reunião matinal. Aí tomei conhecimento de mais coisas que se tinham passado.

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O resto da manhã, passei-a no escritório a ler o livro sobre entrevista motivacional, até que fui ao quarto buscar o que tinha trazido de Portugal, e me entretive durante cerca de uma hora a dispor tudo na mesa, com uns post-its ao lado a explicar o que era. Se na noite anterior tinham apreciado o gesto de ter apresentado na refeição da noite os queques feitos pela Graciete, hoje ainda mais agradecidos ficaram. Tinha: 4 tipos de chouriço, queijo, presunto, trança, pastéis de feijão, chourição fatiado. Depois do almoço, tive cerca de duas horas com Ts e os residentes da fase de motivação no seminário. Após isto, estava eu no meu escritório a ler o TCC, e aparece o orientador, dizendo que ia haver uma reunião extraordinária na sala do grupo, de que deveria fazer parte. Não vou dizer o que se passou nessa reunião, mas foi forte. De facto, comentava eu com Th que, apesar de saber que não falaria na mesma, sentia-me nervoso. E sentia-me. Uma adrenalina latente.

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É curioso que quando mais se passa é quando menos posso escrever.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Mysen, 24 Março 2008

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De volta! Incrível… parece que foi há cerca de minuto e meio que estava aqui sentado, na mesma cadeira a pensar: “Bem, amanhã é Segunda… Quinta vou para casa do Th e Sábado apanho o avião para Portugal…” – e agora já estou aqui outra vez… Ah, as duas ou três pessoas que devem ler o blog já devem saber que fui a Portugal uma semana. Porém, caso ande para aí uma outra alma que se atreva a ler-me, já fica a saber…

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Fiz por não dizer a ninguém pois gosto de surpresas. Nem sei se gosto mais que me façam, ou de as fazer… Pois certo dia, estou eu aqui no meu escritório, e aparece Tr, perguntando se eu não queria ir a Portugal passar as férias que… pagavam! A minha primeira resposta foi dizer que não sabia se me sentiria muito bem com isso, e logo de seguida até pensei se estaria a ser ingrato. Desculpei-me, e ele disse que percebia, mas que não havia problema, e que eram eles que estavam a oferecer. Assim, lá disse que sim, e quando dei por ela, faltava um dia para vir. Alguém tinha saber, e disse então aos meus tios de São João da Madeira, para quem fica um agradecimento por me terem ido buscar e levar ao aeroporto. Mas já passou tudo, como sempre acontece. Foi uma semana porreira, mas curta, como todas as semanas de férias são. Antes de vir pensei que, por melhor que isto esteja a correr, não estava cheio de vontade de voltar, sendo que ainda tinha 4 meses pela frente… Engraçado este pensamento.

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Bem. Hoje não me sinto muito bem. Trabalhar (e no meu caso, viver) numa CT é, geralmente, muito bom. Mas nem sempre. Eu, como sempre, envolvo-me nas coisas, faço-o com a maior parte das coisas com que tenho contacto. E quando há algo que não corre bem, e nestes ambientes não é algo que seja assim tão difícil assim, isso faz-nos sentir mal… o ambiente toca-se, e toca-nos. É espectacular ver alguém melhorar, e faz-nos sentir bem. Mas quando o contrário acontece. Bem, não mais revelarei.

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Pois cheguei ontem, e foi bom ver o pessoal dizer que tinham saudades minhas, perguntando como tinha corrido. Vi apenas alguns, sendo que estava cansado e queria dormir. Assim, quando hoje apareci na sala de jantar para o pequeno-almoço, o pessoal desatou aos gritos e a bater palmas. Escusado será dizer que não sabia onde me meter…

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Bem, vamos ver se vou por partes… Deixei Mysen numa Quinta de noite. Fiquei em casa de Th, onde, mais uma vez, passamos umas largas horas apenas a conversar. Tudo porreiro. No dia seguinte acordei e passado uma hora estava em Oslo, a apanhar o autocarro para Estocolmo. Tive de ir de autocarro pois quando, no dia seguinte, ia comprar o bilhete de comboio, não havia mais. E como me tinham dito que precisava de dois dias de antecedência para comprar o bilhete de autocarro, por uns momentos cheguei a pensar que não ia para lado nenhum… Enfim, lá me safei, e às 22h estava na capital da Suécia, onde fui sair. Beber cerveja a mil paus nem sempre é bom, mas paciência, uma vez não são vezes. De facto, ao trocar de bar estava a estranhar o facto de ainda não ter conhecido ninguém, algo que não acontece com frequência… Claro que, no bar seguinte, lá conheci, nem sei como um americano e o seu grupo, com quem fiquei a falar de música umas horas. Quando era hora, apanhei o autocarro que numa hora de deixou no aeroporto. Lá, esperei mais uma hora e tal até que, estava eu a adormecer, e o avião a levantar. Não se alarmem, eu ia dentro dele…

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Quando chego a Portugal, um bocado para o roto, tenho o meu padrinho e o meu primo à minha espera no aeroporto do Porto, algo que não acontecia fazia uns tempos… ter alguém à minha espera no aeroporto. É assim, caros amigos, da primeira vez, vem tudo, depois vem quem pode… Em casa deles tomei banho, e por volta das onze e tal, metemo-nos a caminho de Vale de Cambra.

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Reacções: A minha avó materna disse que devia ter poderes, pois tinha pensado em mim toda a noite, e eu tinha aparecido; a minha mãe ficou um bocado contente e até ficou meio mal disposta; o meu pai sorrio e perguntou claro, o que eu estava ali a fazer; a Graciete, claro, chorou… ou lacrimejou. O meu irmão tece uma reacção semelhante à do meu pai.

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Foi bom, mas se pensarmos bem, só estive fora 2 meses! Calma! Em Julho vai ser pior… J A semana passou-se… Este blog tem como objectivo relatar as minhas experiências na Noruega, não em Portugal, por isso não encontro grande sentido em estar a explicar o que fiz por terras lusas…

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Voltei para Estocolmo no Sábado, onde andei durante este dia. Quase que já me tinha esquecido… À medida em que andava pelas ruas ia pensando que, efectivamente a cidade é, como me lembrava, bonita, mas que faltava qualquer coisa… Isto, claro, até eu ir à Parte Velha… Que demais! Tenho de ir com urgência a Praga para me decidir acerca da minha cidade preferida. É que estas duas digladiam-se pelo primeiro lugar, e não me recordo com muita precisão da capital checa, pelo que não sei que decidir… posso sempre optar por manter as duas… J

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Não tinha conseguido encontrar sofá para Estocolmo, mas ia haver um encontro de pessoal num bar, o Big Ben, sem grande propósito a não ser a diversão. Foi muito porreiro, éramos umas 18 pessoas de todo o mundo, e de seguida fomos ao Patrícia, um bar num barco, muito fixe. Assim se passou a noite, e às 7h40 estava a apanhar um autocarro para Oslo. Dormi a viagem toda, cheguei, apanhei um comboio, e estava em Mysen por volta das 6 da tarde…

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Se me tiver esquecido de alguma coisa que valha a pena ainda referir, di-lo-ei em outros posts. Bem hajam.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Que complicado é sentir…

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Ter dentro de nós vulcões à espera de nascer,

Tempestades ainda por decidir,

A inadiável ciência do ser…

Bem dentro, esperando explodir…

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Sentir um materializado vazio,

A preencher todo nosso peito,

As emoções viajando num rio

Nunca com um desaguar perfeito…

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Que complicado é sentir…

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E que fácil é não o fazer…

Que fácil é fingir-se apaixonar,

Viver sem realmente viver,

Amando sem realmente amar…

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Que complicado é sentir…

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Tê-lo dentro de mim e não lhe poder tocar,

Viver sem certezas no interior,

Consciente, porém, de conseguir agarrar,

O inagarrável amor.

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Que complicado é sentir,

Que complicado é viver.

Que bom é existir,

Que bom é sentir poder.

terça-feira, 11 de março de 2008

fotos abaixo

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Mysen, 11 Março 2008

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Estou sem vontade de escrever. Estou com algum sono, daquele que nos deixa mole! Não é bom. Sai um café!

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Ok, fui buscar um à Sala da Administração. O que me recorda que ainda não vos fiz uma visita guiada! Queria uma altura em que todos os residentes estivessem numa reunião qualquer, para não correr o risco de filmar um, mas normalmente, nas reuniões em que estão todos, eu também estou…

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Hoje de manhã, depois da reunião matinal e da reunião de equipa fui com Tn visitar Ana, uma futura residente. Está previsto que entre esta Quinta, mas a residente diz que prefere Segunda, porque está a tomar medicação, e fá-la sentir menos nervos e não sei quê… nada feito! Entra Quinta. Pelo menos é esse o plano. Quanto mais tempo na desintoxicação, mais tempo para pensar, para se lembrar das trips, para se aborrecer. Não sei se sabem, mas a droga tem esse encantamento incrível, que faz com que todos, mas todos os toxicodependentes tendam a, com o tempo, ter grandes dificuldades em se lembrar da merda por que passaram com esta substância, morrendo as más memórias e sobrevivendo as grandes festas e mocas que tiveram… complicado…

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Quando cheguei, já depois do almoço, estive a ler o TCC. É porreiro, e gostava de ter algum tipo de formação específica no assunto. Claro que aprende-se todos os dias estando imergido no ambiente, mas ter um curso mais formal também ensina, concerteza, muito. Por isso tenho vindo a procurar, dentro e fora de Portugal, pós-graduações e afins…

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Hoje quando fui correr, a dada altura, senti umas dores no ventre, e tive de parar. Foi bom, porque, enquanto esperava que as dores (que não eram atrozes) parassem, vejo, ao meu lado, o mato. Esse mato por onde passo quase todos os dias, mas onde nunca tinha entrado. Fascina-me o mato/floresta na Noruega. É denso, denso, denso… Das coisas que mais gosto de fazer quando viajo de carro é, simplesmente abrir os olhos, e pela janela ver a floresta, que de tão densa, quase não entra luz! E o chão… o chão é incrível! Coberto de musgo, como se caminhássemos num tapete verde… muito porreiro. E o que é engraçado, e que confirma que talvez seja mesmo algo específico de cá, essa característica dos matos/florestas, é que a capa dos meus livros de norueguês é precisamente a foto dum mato, por dentro. Um dia destes em que me sentia mais cansado abdico da corrida, transformo-a numa caminhada e tiro umas fotos…

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Depois de almoçar, embrulhava o papel de prata, e, estando a uns 3 metros do caixote do lixo, pergunto, na brincadeira, a Oliver quanto queria apostar que acertava. Não consegui deixar de reparar no seu entusiasmo! “Wait” – diz, em voz alta, e com um sorriso aberto diz para apostarmos 50 coroas! Disse que estava a brincar, e que não ia apostar dinheiro com ele, mas que podíamos apostar 10 flexões. Acertei. Porém, fiquei a pensar no seu entusiasmo. Posso estar a sobre-analisar, e ver sinais onde não existem, mas fiquei a pensar na ânsia que há de excitação… como Olswald, que me dizia, noutro dia, quando o fui buscar à desintoxicação, que nas lombas acelerava o máximo possível para sentir a adrenalina ao descer… São coisas que todos fazemos, mas uns fazem por fazer, outros fazem por precisar, talvez… ou então não tem nada a ver…

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Vasco ontem perguntou-me se hoje poderíamos ter Counselling. Disse que sim, claro, mas não sei se aparecerá. Sinto o rapaz como ambivalente, característica essa que também não é rara nesta população, e por isso não sei… Repare-se que não estou aqui num mero exercício de generalização, colocando toda a gente no mesmo saco. Simplesmente há características que são mais ou menos comuns a determinados tipos de população, seja de pessoas deprimidas que se fazem tantas vezes de vítimas, de toxicodependentes que são ambivalentes e buscam o que podem para sentir outras coisas, ou não sentir de todo, sejam obesos que afogam na comida as suas mágoas… coisas…

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Este tipo de cansaço deixa-me meio pensativo… Daquele tipo de sentimentos que nos fazem apreciar quando estamos efusivos e felizes. Não estou triste, mas talvez um pouco em baixo. É natural, e sei que não tenho com que me preocupar. Isto pois lembro-me, aqui há uns anos, largos anos, quando me sentia mais triste, não conseguia evitar pensar no que aconteceria se assim fosse para sempre! Não por, mesmo nessas alturas, me sentir muito triste (não gosto, como talvez já tenha dito, de dizer deprimido… não por “mania”, mas porque essa palavra é mal usada, creio), mas simplesmente… porque sim… Assim, quando acabar de escrever isto, vou acabar uma estória que comecei enquanto este texto criava, sobre um casal da amantes, cada um casado com outra pessoa, que estão a pensar na sua relação, num quarto de hotel em Oslo. Depois vou ver se começo a ler um livro que desencantei na Sala de Administração: “Motivational Interviewing”.

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Saudações escandinavas.

Renavanger







































a portuguesa que ganhou o casting nacional, lol... e que anda na minha faculdade...









segunda-feira, 10 de março de 2008

Mysen, 10 Março 2008

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Hoje tive a minha primeira aula de Norueguês! Uau! Deixei a CT com Tr, e fomos em direcção a Askim, cada um no seu carro. Como ele vivia perto da escola, passamos em sua casa, onde bebemos um café e conversamos um bocado. Isto até ele ter de ir para a competição de Karting, e eu me pôr a caminho. Quando cheguei, como ainda era cedo, pus-me a explorar, e fui dar, dentro da escola, a um pavilhão onde jogava à bola, sozinho, um miúdo. Sem trocarmos uma única palavra, ficamos a jogar uns 10 minutos, até que se aproximavam as 18h.

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Quando entro, constato ser o primeiro. A minha professora é russa, pelo que fico a pensar que serei um português a falar norueguês com sotaque russo. Brincadeira. Mas é uma possibilidade. Eis que o pessoal começa a chegar! “Ok, vamos ver aí a multi-nacionalidade surgir!” – passa pela minha cabeça. Hum… “Estranho, tenho três pessoas da Estónia de cada lado!” – penso pouco depois, ao perceber que a multi-nacionalidade não abunadava naquela sala de aula. Do lado esquerdo, dois rapazes e duas raparias, simpáticos; do lado direito, a distribuição a nível de género era a mesma, mas a faixa etária era maior. De início tinha do lado direito a rapariga/mulher, mas, não sei porquê… ou melhor, até sei… Um deles, o J. pergunta-me, em espanhol, se eu falo essa língua. Quando digo que sim, a professora diz para trocarmos de lugar! Já me aconteceu N vezes… As pessoas perguntam-me se falo uma língua, utilizando essa mesma língua… digo que sim, e a conversa fica por aí. Isto porque este senhor não falava espanhol. E que me interessa? Nada. E que é este senhor?... Sem um dente da frente, a sua figura estica-se por quase um metro e noventa, e sinto chegar ao meu nariz um aroma que sugere uma mistura de tabaco e vinho. Ok, não há crise. E não havia mesmo, até que percebo o tipo… Não sei se estão a ver o tipo… Daqueles que está sempre a virar-se para nós a explicar o que a professora diz, como se fôssemos burros e não percebêssemos, que interrompe a professora dizendo coisas óbvias como “Ya… is Yes” e que, quando falamos em conjunto faz a sua voz de sobrepor às dos demais. Enfim. Contudo, não acho que faça isso numa de “se armar”, mas por… sei lá, é meio simples.

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A aula não correu mal, mas já não estava habituado a estar numa aula de 3h, ainda que com 2 intervalos… O pior, que no fundo até é o melhor, é que pouco aprendi, pois já sabia quase tudo o que foi ensinado. No problem. À partida a faculdade paga o curso até 40 e poucos contos. Este vai ficar em 40 e poucos, e só tenho de pagar os livros. Nem sei por que não deixei aspas no só… é que 2 livros são 80 euros!

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Tenho algumas fotos para publicar, mas ainda não tive paciência. É que cada uma demora algum tempo a carregar. Prometo f… não, não prometo nada. Ou melhor… prometo que vou ver se o faço. Pois, é o mesmo que nada…

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Hoje de manha fui com Tr ao aeroporto buscar um novo residente. E agora há pouco apareceu aqui no meu escritório Vasco, a perguntar se amanhã podíamos “conversar”, e contou-me o que se vai passando consigo, e inclusive algo que se passou aqui que vocês iam adorar saber mas por cá vai ficar…

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Mysen, 7 Março 2008

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Não! Não morri, estou vivo! Bem vivo!

São 21h48, e fui correr há pouco. Estou com aquela sensação porreira. Os músculos relaxados e a mente a acompanhar. O dia teve os seus momentos… não de tristeza, mas aquele sentimento de alguma frustração… típica de querer ajudar e ver as coisas difíceis. É que o islandês, doravante chamado Oliver, queria ir embora. Gosto dele, assim como gosto de quase todos os residentes e, na medida em que nos envolvemos, custa ver alguém decidido a desistir mais uma vez… Envolvo-me com estas coisas, e isso geralmente faz-me sentir bem. Mas por vezes nem por isso. Claro que não me arrependo da entrega, de pensar que todos se vão safar. Afinal de contas, e como já tantas vezes disse, é melhor sentir, seja o que for, que não sentir. Falei com ele, ele disse-me coisas que não vou escrever aqui… vi-o depois falar com sua mãe, com o seu “irmão mais velho” da casa, o tempo a passar e as malas à porta. Antes de falar com ele, porém, tinha um sentimento estranho de não saber bem o que fazer. Como aqui na casa os residentes têm a importância que têm na melhoria uns dos outros, via-o, ao fundo, a fumar o seu cigarro, e não sabia se deveria falar com ele ou não. Lá achei que mal não ia fazer, e fui falar com ele. Permaneceu com a mesma opinião, e quando o deixei estava convicto que ia deixar o programa.

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Contudo, Ta vem falar comigo, cerca de uma hora depois, e diz que fruto de algum “pressing” seu, da mãe de Oliver e do seu irmão mais velho, este vai acabar por ficar. Fiquei contente, claro. Neste ano apenas desistiram 2 residentes ainda, o que é bom! J

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Agora… porque é que estive tanto tempo fora? Sim, por causa dos Jogos de Inverno…

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Eis que chega Segunda, e consigo a certeza de ir passar os próximos dias num sítio diferente, de maneira diferente! Vou no carro com mais 3 residentes, e passado umas 5 horas, chegamos a Renavanger! A primeira impressão foi de algum espanto. Com o passar dos dias percebi que as condições, apesar de muito boas, não serão até tão boas como as nossas. Porém, tudo tem um aspecto muito acolhedor. As paredes são de madeira, por dentro e por fora, têm lareira, piano… enfim, é um espaço porreiro e confortável. Isto, claro, apesar de estar deslocadíssimo de tudo! Na brincadeira, digo a não sei quem que a taxa de desistências de Renavanger tem de ser muito baixa, porque primeiro que consigam chegar à civilização…

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Ao longo das viagens, tanto de ida como de vinda, foi crescendo em mim, creio, algo que já tinha nascido, que é alguma paixão por este país. Gosto do que vejo. Não quero, mas faço-o, e comparo-a com a Finlândia. Não o quero fazer, porque não conheço assim tanto a Finlândia, como sei que vou conhecer, no final, a Noruega. A primeira ganha com o facto de ter mais lagos, mas a segunda, apesar de não ter tantos, tem bastantes, e o terreno é mais acidentando, esbarrando a vista, frequentemente, com uma outra montanha. Quem costuma ir para sítios como a Serra Nevada e afins provavelmente rir-se-á de mim, mas a verdade é que nunca tinha visto, até anteontem, o cume duma montanha completamente branco, sugerindo bolo com uma imaculada cobertura de açúcar… e é demais! Especialmente acompanhando, descendo com o olhar a encosta da montanha, e acabando num lago, num rio, seja no que for, mas num imenso espelho feito de água. Pois agora só imagino como será quando for num barquinho pelo meio dos fiordes…

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Não me falam mal de Oslo, e eu tampouco o faço… contudo, têm-me falado muito melhor de Bergen. Talvez seja como Lisboa e o Porto… os turistas vêm para ver Lisboa, muitas vezes sem saber que perdem uma cidade espectacular (não digo melhor, isso é… relativo) apenas uns 250km acima… Assim, aguardo o dia em que conhecerei essa cidade, e aguardem comigo, pois prometo um feedack pleno de informação e sugestões.

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Continuando, lá nos instalamos. Ao contrário do que pensava, não ia ficar num hotel, mas num quarto com mais 7 residentes, dormindo no chão. No problem! Mais tarde Ts veio-me perguntar se eu queria ficar noutro sítio com mais espaço, mas disse que estava bem. E realmente estava. Para dormir tinha um mero espaço de 2 por 1 metro, um colchão tão alto como uma pestana, mas estava bem. E não me arrependi. Sempre gostei das “pillow talks”, que apesar de, neste caso, curtas, sempre arrancavam umas risadas. Sobre as risadas… ao longo destes dias, e como costumo fazer, fui bastante “eu”. Com as minhas palhaçadas, os meus abraços, enfim, as coisas que costumo fazer, a maneira como costumo ser. Nunca fui de me colocar numa posição superior aos residentes, tentando ser quem sou, dentro do aconselhável, para que assim sejam comigo, também, quem são. Apesar disso, sinto que me respeitam. Isto é, apesar de tudo, e desta condição tão especial que é o facto de viver aqui, não me vêem como um residente. Não superior, mas diferente. Claro que por vezes é necessário relembrá-los… Apesar de dizer “por vezes”, apenas me recordo dum episódio… Foi lá em cima, e nem é nada de mal. Foi lá em cima, em Renavanger, quando faziam as equipas para o volley, curling, etc. Alguém se lembrou de perguntar se eu queria jogar, e toda a gente se agarrou com unhas e dentes a esta ideia. Tive de insistir muito, mesmo muito, dizendo que não jogaria pois eram os jogos deles! Foi difícil, mas lá perceberam.

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Quanto às competições, houve:

1) Volley na neve – todas as equipas ganharam 2 jogos e perderam outros 2, por isso todos trouxemos todos para casa um diploma de primeiro lugar;

2) Curling – Não trouxemos nenhum prémio (foram entregues do terceiro ao primeiro lugar)

3) Construções na neve (idem, ibidem)

4) Ski (idem, ibidem)

5) Peça de teatro (idem, ibidem)

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Pois à primeira vista até parece negativo, digam lá… Mas o facto, que até é bastante óbvio, é que ganhar não interessava. O cliché o que interessa é participar nunca se aplica tão bem como em casos como estes. MAS… é sempre bom ganhar, óbvio! E foi por isso que toda a gente se sentiu feliz em ter ganho o prémio que, na minha opinião, acaba por ser o mais importante. Falo do prémio de “Best Fellowship”, melhor irmandade (esta tradução sugere-me algo que falhará, eventualmente, um pouco, no significado). De facto, guardo na minha memória, e guardarei sempre, a imagem espectacular de ver Liam a correr com os skis, tentando ir o mais rápido possível, e os restantes membros da Phoenix, residentes ou técnicos, a correr ao lado dele a gritar, rir, e dar força! Muito porreiro. Era uma espécie de estafeta, em que os residentes iam apenas com um ski, e sempre acompanhados, ainda que não fosse obrigatório, por todos os amigos a apoiar. O outro prémio que ganhamos vai na mesma linha deste, e até é mais engraçado, que é o prémio de “Melhores Perdedores” J De facto, durante os jogos éramos bastante suportativos, sempre a gritar e cantar, e no final, quando perdíamos, batíamos palmas e estávamos contentes na mesma. Correu tudo perfeitamente, até ao último dia, em que Evelyn (sim, nome fictício… a minha mãe disse que apenas com números as pessoas perdiam toda a dimensão humana…) entrou numa onda menos boa, chorando e queixando-se disto e daquilo. Outra situação surgiu, até irónica, mas pronto…

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8 de Março 2008

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Ontem não tive oportunidade de acabar o post. Neste fim-de-semana não vou sair de Mysen. Tive toda a semana fora, e para a semana acho que vou ter uns dias, por isso aí vou dar uma volta. Diferente.

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Um outro aspecto que me fez apreciar a viagem foi as conversas que tive com alguns residentes. Conversas com mais substrato, daquele tipo de conversas que me fazem sentir mais “psicólogo” e, sinceramente, que até tenho jeito para isto. Foi mais com o pessoal que fala melhor inglês, mas ainda assim foi muito porreiro.

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Detalhes que mereçam ser referidos, sê-lo-ão em posts futuros. Não quero uma injecção de dezenas de páginas só porque estive uma semana sem escrever.

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Abraço.

sexta-feira, 7 de março de 2008

sábado, 1 de março de 2008

Mysen, 1 Março 2008, 13h02

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Olá meus amigos… Eis que hoje é Sábado e me encontro nesta bela cidade (será? nem sei…). Como não fica barato ir todos os fins-de-semana à capital optei, como acho que já aqui disse, ir só a cada 15 dias. Quando arranjar uma bicicleta, pedalar não custa dinheiro, por isso, e quando o tempo começar a aquecer, planeio mandar-me mais ou menos sem destino todas as semanas, munido de um saco de cama e um sorriso. Até lá…

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Além do mais, não há problema, pois esta Segunda vamos aos Jogos de Inverno, por isso sempre se muda de ares.

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Ontem foi um dia em que me senti particularmente excepcional. Refiro-me àquele momento que é tão meu, e que por regra me deixa a sentir bem, mas por vezes me deixa a sentir-me fora de mim…

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Como depois do almoço nos reunimos para a reunião da casa, onde está sempre presente um apetitoso bolo, sentia-me ainda, à hora em que costumo correr, com o meu estômago pesado, pelo que decidi adiar a corrida. Para o dia seguinte, ou para umas horas depois. Veio o jantar, e com ele mais uma refeição que me fez comer mais do que devia, fazendo-me ver, portanto, essa corrida mais distante. Porém, o relógio passeava pelas 20h quando sinto o chamamento. Vou lá fora, e descubro que está a chover. Não me demove. Vou ao quarto, equipo-me, vou buscar um colete luminoso, presenteio o meu leitor de mp3 com o fantástico Pablo Honey, grande álbum dos Radiohead, e lá vou. A noite estava particularmente escura, e naqueles momentos em que me embrenho no mato, quase nada via. Contudo, correr, sentir o coração a bater mais forte do que o costume, sentir as veias pulsar de satisfação, ouvir músicas esplêndidas, sentir as gotas de água acariciarem a nossa face juntando-se ao Vento que esporadicamente me atravessava… fazia-me sentir mais vivo que nunca! É algo indescritível, posso apenas tentar demonstrar o que sentia, mas eu próprio já o vejo a algumas horas de distância, e sinto que tanto fica por dizer…

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A dada altura sinto algo doer-me no ventre. Não me preocupo, mas paro, quedando-me no mesmo sítio por uns minutos. Sentia a água escorrer pela minha face, olhava à volta e via campos desertos, uma imensidão de nada, que me fazia, ironicamente, sentir no meio de tudo, como parte de tudo. A dor desaparece e faço-me novamente à… estrada, aumentando o meu ritmo a cada passada.

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Quando chego à Phoenix, venho pela parte de trás, e fico no jardim a fazer os meus alongamentos. Escolho “Black”, dos Pearl Jam, ao vivo em Portugal, em 2006 (agora que penso nisso, já foi há tanto tempo??),concerto que teve a minha voz como contributo, no meio de outros tantos milhares… tiro a t-shirt, ficando de tronco nu, e deito-me na mesa de madeira, que me recebe, fria. Ah!!! Só queria ter algo em que escrever, na altura. Ouvia a música, que nesta versão se prolonga por uns belos 8 minutos, sentia a chuva espalhar-se por todo o meu corpo, o Vento gélido que me fazia arrepiar, e um largo sorriso se esboçava no meu rosto. Acho que é esta a minha droga. Tentar sentir ao máximo! Abraçar as sensações, trazê-las para dentro de mim, fazendo nascer os mais incríveis sentimentos! É algo extraordinário. Claro que o facto de nunca ter sido dado a doenças ajuda, já que estavam uns 3 graus, chovia, e eu estava de tronco nu, ao Vento, após ter corrido meia hora. Enfim. Fiquei a sentir-me lindamente para o resto do dia, com aquele cansaço confortável a habitar os músculos, que emprestavam ao cérebro a mais saudável sensação de relaxamento.

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Na manhã desse mesmo dia, após a reunião matinal e a reunião de equipa, encontrei-me com Tr no seu escritório. Ia lá apenas para imprimir o resto que me faltava dos primeiros 2 módulos do “TC Curriculum – Participant’s Manual”, mas nem sei bem porquê, começamos a falar, e encetamos mais uma conversa de uma hora e tal. Gosto mesmo dele, é um gajo porreiro, que sabe muito, viveu muito, mas que também sabe que é humano. Acho que, no que diz respeito a apreciar alguém e ser apreciado por alguém, melhor que ser apreciado, é ser apreciado por quem apreciamos, coisa que neste caso acontece (acho que nunca usei tantas vezes o mesmo verbo numa frase…). Falou-me de si, de mim, e do que de mim achava, de si, de alguns residentes, etc.

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Depois do almoço tivemos a reunião da casa. O bom ambiente do costume, acompanhado do café e bolo foi coroado pela apresentação final da peça que prepararam para os Jogos de Inverno. Apesar de não perceber bem o que dizem, dá para perceber que está muito engraçada. Como já referi, quando um residente sente que quer partilhar algo, apenas pede a atenção, e instantaneamente toda a gente se cala, ouvindo. Pois 1 pediu a atenção, a dada altura, e começou a falar. Pareceu-me ter percebido uma palavra que se revelaria nuclear, mas não me fazia sentido, por isso achei ter percebido mal. Todavia, quando se cala, toda a gente permanece calada a olhar para ele, e, um ou dois minutos depois, um par de residentes dirigem-lhe a palavra com um tom empático. Quando se acaba por mudar de assunto pergunto o que se passava, e sei que tinha percebido bem essa tal palavra… 1 tinha descoberto, no último fim-de-semana, em que tinha ido a casa, que tinha uma filha de 3 anos!... Heavy…

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Depois da reunião da casa, e do jantar, estava na sala de estar com alguns residentes, quando percebo que ia ter lugar uma reunião. Deixei-me ficar, e soube que era o “Weather Report”. Um a um, e por ordem, todos os residentes partilham com o resto do grupo como estão, e como se têm vindo a sentir. Quando chega a vez de 2, americano, fá-lo em inglês, e mais uma vez confirmo o quão melhor seria se percebesse o que dizem… No final, olharam para mim, para surpresa minha, e perguntaram: “And you Pedro, how do you feel?” – não estava à espera, mas respondi à pergunta, dizendo que me sentia muito bem ali, a semana tinha corrido bem, apesar de na Quarta me ter sentido como me senti… mas que isso não é necessariamente mau, sendo que os momentos em que estamos menos bem nos podem ajudar a reflectir sobre as coisas que nos fazem sentir bem, e nos recordam que somos humanos, existimos, e nem tudo é, sempre, perfeito… isso e o facto de quando estamos mal poder ser uma maneira de melhor apreciarmos quando estamos bem. Sempre pensei isto… não sei se será uma estratégia para estar melhor quando menos bem, ou…

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À noite, após ter falado cerca de 45 minutos ao telefone com o meu primo João fui para o quarto ver o “Este País Não É Para Velhos” – recomendo.

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Hoje de manhã aconteceu-me algo incrível! Acordei, podia levantar-me nesse momento, sendo que o sono não abundava, mas usei e abusei dos lençóis, entregando-me tanto tempo quanto possível, até que tinha mesmo de me acordar. “Txi, já devem ser prai uma hora”, pensou o pobre português. Pois quando liguei o computador descubro serem 9h57! Acho que nunca me tinha acontecido “dormir tanto” e acordar tão cedo! É o hábito…