quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Mysen, 13 Fevereiro 2008

.

Sinto-me bem! Ouço “Bad Movie Scene”, “The Gathering”, uma música calma. Acho que, quando se está triste, pode ser um pouco depressiva. Mas quando se está bem pode ser, ao invés, relaxante. A música é, como já disse e escrevi milhares de vezes, das melhores coisas que existe. Já pensei que nos pode fazer sentir tudo. Mas agora que volto a pensar nisso, talvez nos amplie os sentimentos que já temos, sem os transformar completamente…

.

A razão por me sentir bem creio estar relacionada com o facto de, dia após dia, ir encontrando o meu lugar aqui na CT. A cada dia que passa dou-me melhor com os residentes e com a equipa técnica, falo melhor norueguês, e participo em mais actividades. E mesmo quando não estou a participar em alguma actividade ou a conversar com os residentes, tenho muito que fazer. Vejamos: Tenho o livro de CTs que estou a acabar; o livro de Gestalt Therapy; o “Therapeutic Community Curriculum – Participant’s Manual (155 páginas); o “Therapeutic Community Curriculum – Trainer’s Manual (292 pp); o guia do ASI (Addiction Severity Índex); aprender Norueguês, e etc… Muito com que me entreter, portanto…

.

Hoje de manhã tive reunião com T1, T2 e T3, a equipa que está encarregue das entradas na CT. Estivemos a falar de todos os residentes que querem entrar, discutindo a data de entrada, a data de entrevista, e da visita à CT, que acontece sempre pouco tempo antes da entrada. Falamos do residente que desistiu. Sim, é verdade, ontem desistiu um residente. Foi à noite. Estava sentado na sala com 1, e 2, quando aparece 3, chamando 2. dava para perceber que se passava algo, e quando perguntei a 1 o que seria, disse que provavelmente alguém queria sair, pois algumas pessoas não andavam muito bem. Devo admitir que, nos primeiros dias em que cá estive, a impressão que me dava era que tudo corria perfeitamente. Quase perfeito. Mas claro que tinha consciência, num nível mais racional e sensato, que assim não seria. Efectivamente, ontem a árvore de madeira tinha 4 folhas amarelas… hoje tem duas.

.

Fiquei triste com a saída de 4. Gosto dele. É das pessoas que aqui chegou, como falamos nesta manhã, com uma data de diagnósticos que nunca se chegaram a confirmar. Falamos disso pois mostraram-me que, muitas vezes, na ficha dos residentes, vêm alguns diagnósticos que nem sempre se revelam correctos. Os Ts disseram-me que estavam a trabalhar também no sentido de trazer de volta para a CT o residente 1. Intrigado, perguntei o que fariam caso ele voltasse, no que diz respeito a eventuais punições. Disseram que dependia do que tinha feito, mas ficou em mim a ideia que punir não seria, nem era, a primeira coisa em que estavam a pensar.

.

Depois do almoço tirei uma meia hora para acabar de ver o primeiro dvd do Leon, e de seguida tive uma reunião com T1 e o director, a pessoa que tornou possível a minha estadia aqui. Acho que já me referi a ele como o orientador. Estivemos a falar de como estava a ser, actualizamos o director acerca de como estava a correr, do que tínhamos falado e feito, e de seguida estivemos a alinhavar o plano geral. Não o plano mensal, mas mais ou menos o plano geral em determinado aspecto até ao final. Uma das coisas importantes de que falamos foi o ASI e a importância que tem na construção de um plano individual para cada residente. Já sabia como passar um ASI, apesar de não em completo detalhe, mas o facto de a partir daí estabelecer a “feedback formula” e construir um plano individual. Mostraram-me o quão importante consideram isto, e como alguns técnicos podem, de certa forma, se apegar aos residentes, e sem saber prolongar o seu tratamento… Dizem-me que no passado, em casos especiais o tratamento era prolongado, mas que a dada altura os casos especiais passaram a ser casos normais.

.

No final, sentia-me bem. A reunião correu bem, e sinto que tive intervenções apropriadas e inteligentes. Além disso disseram-me que tudo estava a correr bem, e que me tinha inserido mais rápido do que qualquer outra pessoa! (smile) Isso, juntamente com o que discutimos e o que planeamos deixara-me com um sentimento de leveza. Sentimento esse que decidi elevar… Vesti os calções, apetrechei-me com o leitor de mp3, e fui dar uma corrida. A cada passada, sentia a liberdade entrar dentro de mim. É o melhor sentimento que podemos ter, acho. Trás atrás de si uma outra carrada de sentimentos. Olhava ao redor e via a minha sommbra inclinada uns dez metros ao longo de campos verdejantes, corria entre as árvores, sentia o vento frio, e ouvia música… claro que… a dada altura perdi-me. Não quis voltar para trás, e segui em frente. Corri pela lama, saltei riachos, entrei em propriedades, subi colinas, enfim… Foi porreiro. Isso apesar destas subidas terem feito com que me cansasse mais rapidamente e tivesse de regressar a caminhar. Contudo, na parte final corri o mais rápido que pude, num esforço de me levar ao limite, de me cansar, para de seguida me ver cair na relva da CT, olhar o céu, ouvir “Stranger Things Have Happened” dos Foo, e… nada. Olhar o céu e sentir o Vento, simplesmente…

.

Banho tomado, fui jantar. Mais uma vez uma qualquer sopa, feita de não sei quê, mas muito boa. Depois do jantar, como sempre, fui ver “Scrubs” e “That 70s Show”. Acabei por não ver muito pois a dada altura 3 sentou-se ao meu lado, e disse que não se estava a sentir muito bem pois no dia anterior, no Contact Group tinha gritado com o residente que tinha saído, e estava a sentir-se culpado. Para quem não sabe… os residentes quando sentem algo menos positivo em relação a alguma pessoa são aconselhados a não libertar o sentimento, mas a escrever num papel (já expliquei isto), papel esse que é lido no Contact Group. A pessoa que ouve, deve apenas ouvir. A pessoa que fala, sem largar as mãos da sua cadeira, pode gritar. Eu disse-lhe que não tinha por que se sentir culpado, pois apenas tinha usado apropriadamente as ferramentas que tem na CT para se expressar e partilhar os seus problemas. Quando me diz que, ainda assim, sente que talvez tenha sido ele a dar o empurrãozinho final para a saída do outro, continuamos…

.

Agora foi daqueles momentos em que retirei algo já escrito.

Bem, por hoje vos deixo.

1 comentário:

Hands of Time disse...

Por cá está um soleil fantástico! Parece ser primavera! Demais!
Isso das folhas amarelas acho mesmo interessante!