segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Mysen, 11 Fevereiro 08, 20h17

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Pois faz uns dias que não escrevo… na Sexta ainda comecei, mas não acabei… de manhã fui à Clínica de Ostfold (tem aquele risco em cima do O, tipo /+O, mas não me apetece procurar onde está), sendo Ostfold a zona onde pertence Mysen. Fui com T1 (não o T1 habitual), que estava receosa da viagem, duvidando do seu inglês. Apesar de não ser perfeito, conseguimos comunicar bem. Levei o meu novo melhor amigo, que cabe num bolso e é o meu novo dicionário, e fui ficando entusiasmado e contente com o quanto tenho aprendido. Ainda estou muito longe, é óbvio, mas em 2 semanas acho que já aprendi mais do que posso imaginar. Pelo menos a falar. Compreender é mais complicado.

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Estivemos com um utente que, a correr tudo bem, se juntará a nós próxima Quinta-Feira. Diz que desta vez tem 100% certeza que é isto que quer fazer, e que não vai desistir, como no passado. Este utente é um exemplo do parágrafo 12 que referi noutro dia, pois está a tentar que, em vez de cumprir X meses na prisão, faça o tratamento. Diz detestar usar drogas, mas que não consegue resistir, e por isso precisa de ajuda.

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Após T1 preencher um questionário ao qual o utente ia respondendo, reunimo-nos com o P1, o psiquiatra de renome de quem tinha falado. O propósito da reunião era, simplesmente, para eu o conhecer. Não tinha preparado nenhuma pergunta, mas ainda assim estivemos cerca de uma hora à conversa. É uma pessoa bastante acessível, calma, e nota-se que sabe muito. Muitas coisas valem a pena reter da conversa que tivemos, e retive, efectivamente, mas não vou escrever aqui tudo. Simplesmente uma nota para o facto das drogas leves serem mais perigosas e fisicamente aditivas do que se pensa. O nosso cérebro produz antanamida (não sei se é este o nome correcto), que é um anti-psicótico. O haxixe e a erva também o fazem, pelo que o uso constante e prolongado desta droga faz com que o cérebro deixe de produzir. Resultado… quando se deixa de consumir, a pessoa pode começar a bater um bocadinho mal. Não, a solução não é nunca deixar de fumar, mas talvez, para quem fuma, fazê-lo moderadamente, ou não o fazer. Não é irreversível e, como tanta coisa no corpo humano, depende da vulnerabilidade de cada um.

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Falamos do facto de o governo ter fechado várias unidade de desintoxicação, havendo agora menos, do tratamento que fazem lá; falamos das diferenças de preferência de drogas que já notei em relação a Portugal (aqui, ao que parece, há pouco consumo de cocaína, e muito de comprimidos, como benzodiazepinas e afins, ao contrário do que me recordo com os utentes na CTAI); falamos ainda das perturbações mais constantes nesta população (Perturbações da Personalidade » Borderline [muitas vezes em co-morbilidade com hiperactividade]) e do facto de, numa investigação levada a cabo por “não me recordo quem”, 75% das pessoas que tinham uma perturbação, tinham-na já antes do consumo de droga, ao passo que 25% depois.

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Quando chegamos, uma hora depois de termos partido, sentia-me enérgico. Tinha dormido bem e muito na noite anterior, e tinha em mente partir para Oslo. Contudo, a minha anfitriã avisa-me, um pouco em cima da hora, que tinha adoecido… Estava em risco a minha ida pra capital, mas queria ir, estava aqui há 15 dias seguidos. Assim, desatei à procura de um novo anfitrião, e já tinha arrumado as botas quando recebo um mail do 1, a dizer que podia ficar em casa dele, mas que ele ia a uma festa. “Perfeito”. 3 emails trocados e tenho as direcções para sua casa. Saio à pressa, mas não me esquecendo de lado, e paro no super-mercado para comprar algumas cervejas para levar para a festa. Pois estou eu com elas pronto a pagar e a caixa diz-me algo que não percebo. Quando ela percebe que não percebo, diz-me, em inglês, que não me pode vender cerveja depois das 20h. Fiquei um pouco admirado, mas não tinha grande coisa a fazer senão voltar a deixar as bebidas quietas no seu sítio…

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Comprei o bilhete de comboio, e às 23h estava em Oslo. Demorei cerca de uma hora a encontrar a casa que o 1 me tinha indicado, e quando chego descubro uma festa com umas 30 pessoas, música muito porreira, e um ambiente interessante. Por lá ficamos até às 6h da manhã. Curiosamente havia vinho português!

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No dia seguinte fui dar uma volta por Oslo. As fotos estão um pouco escuras, e acho que sugerem algo menos bonito do que realmente é. Não que seja algo do outro mundo, mas é porreiro. Não é tão bom como Estocolmo, mas bastante melhor que Helsinki (ri-te). À noite, bebemos uma cervejas em casa, e depois fomos para um bar chamado Spacebar (Spaceba que dizer Obrigado, em russo), com motivos de Europa de Leste e um ambiente diferente, e por isso interessante. Como era o primeiro fim-de-semana dei-me ao luxo de beber 3 cervejas e pagar 18 euros!! Nota: Acabou beber cerveja a 6 euros!

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Quando chegamos ainda fomos ver o último episódio de Lost. O M. (anfitrião… acho que a ele não tenho de chamar por um número aqui…) é fixe. Inteligente, gosta de futebol, gosta de festa, e trabalha numa galeria de arte.

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Pois Domingo, lá vim embora… Cheguei à estação às 14h05, e o comboio era a cada 2h, tendo sido às 14h. Fui dar mais uma volta pelo centro. O dia estava convidativo, e o passeio foi agradável.

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Hoje não fiz grande coisa. Ou melhor, fiz, mas do tipo de coisas que podia fazer em Portugal. O T1 foi visitar uma prisão, e por isso não esteve cá. Uma diferença em relação à CTAI é que os residentes, de certa forma, estão quase sempre ocupados. Por isso nem sempre consigo encontrar algum e conversar um bocado. É tudo muito estruturado. Assim, li o que tinha a ler, estudei Norueguês, e ainda tive cerca de uma hora a conversar com T2, o senhor mais velho de quem já falei. Ele veio pedir-me para escrever o nome da minha terra num papel para ele mais tarde ver no Google Earth, e eu, como tenho esse programa no meu computador, mostrei-lhe. Falamos de outras cidades interessantes na NR, de motas (ele é biker), de boleias, etc. Não me aborreceu. Dei, no Google Earth, uma olhada a Bergen, e pareceu-me fazer o meu estilo. Não muito grande, e com muita água!

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Andei também a tratar dos papéis necessários para concorrer para um estágio na UE nos departamentos de Ajuda Humanitária e de Employment, Social Affairs and Equal Opportunities (uma candidatura para cada); bem como dos papéis para um concurso do IDT para 11 psicólogos. Bem… não é por “ser eu”, mas, na medida em que valorizam experiência de trabalho com toxicodependências, acho que este concurso tem a minha cara… Pena que não tenho o comprovativo de ter acabado o curso ainda… Ainda assim vou enviar, juntamente com um compromisso de honra em que me comprometo a enviar o mais cedo possível. A ver vamos. Se por algum acaso for seleccionado, desisto ta Bélgica.

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Falei hoje com a Graciete, que me disse que falou com a minha mãe, e que esta lhe disse sentir que eu estava bem, mas que me faltava algo. Fiquei a pensar nisto. Como é que me sinto? Na verdade, sinto-me bem. Não há nada de que me possa queixar aqui. Ou melhor, tudo o que posso ter, tenho. Claro que não tenho “coisas” como os meus amigos, família, aqui ao lado, ou a Graciete a um palmo de distância, mas isso faz parte das coisas que não posso ter. Não aqui. Ou pelo menos, não com a mesma frequência. Contudo, por sorte, sei entreter-me sozinho, e apesar de estar, como digo, muitas vezes, sozinho, não me sinto só. Isto, geralmente, claro. Há momentos em que assim me sinto. Contudo, essa solidão não me esmaga, nem me faz andar cabisbaixo. Se quisesse entregar-me a lamúrias, podia-o fazer, mas nunca foi o meu estilo, e tampouco acho justificável… Estou bem, e tenho andado feliz. Acho que o meu termómetro da felicidade é a minha própria boca. Quando me ouço cantar, sei que estou bem. E, curiosamente, este termómetro é auto-suficiente, pois alimenta-se a si próprio. Complicado, não? Pois é simples… Se estou bem, canto, se canto, isso faz-me continuar bem. Pena que a minha voz seja tão rígida e por vezes seja apanhado com uns agudos completamente desafinados…

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Bem, por hoje vos deixo.

1 comentário:

Anónimo disse...

dia a dia bem interessante! Deve ser bastante exigente lidar com este tipo de problemas...nem sempre com sucesso!