terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Mysen, 12 Fevereiro 08, 20h03

.

Caros amigos…

Do meu escritório vos escrevo, como sempre. Ouço “Stranger Things Have Have Happened”, dos Foo Fighters. Para variar, hoje vou descrever o meu dia ao contrário. Enquanto vos escrevo, falo com o muy honorável Dr. Johny Keating. Momentos antes, fruto de uma inspiração de momento, por sua vez fruto de estar a ouvir a música certa, estive a escrever um par de estórias.

.

Aqui há tempos, em conversa com T1, este ficou de me emprestar uns dvd’s do George de Leon (o autor do livro de 500 páginas que estou a acabar sobre CTs). Ele não se deve ter lembrado, e eu tampouco. Contudo, ontem, T2 falou-me dos mesmos dvd’s, pelo que lhe pedi para me emprestar. Esta não se esqueceu, e emprestou-me os 3 dvd’s, metade de um dos quais estive a ver antes de escrever as estórias. Basicamente é o George de Leon a falar, aparecendo de vez em quando exemplos de pessoas “reais”, ex-toxicodependentes, a exemplificar o que o autor explica. Não sei se é por este tema tanto me interessar, mas gostei bastante, e não acho nada aborrecido. Ao pensar nisto, no facto de gostar deste tema, a toxicodependência, penso se terá sido sorte o facto de por estes caminhos ter entrado, ou se tivesse ido por outro caminho gostaria na mesma… é certo que sou uma pessoa que se entrega aos projectos ou ideias em que está envolvido, e não seria difícil apaixonar-me por outro tema… mas… Estou confuso. É certo que o sou, mas não é certo que isso me permita gostar de toda e qualquer situação que me apareça. Daí que possa dizer que não sei ao certo o papel que cada factor desempenhou. Nova ideia: Penso agora que este ambiente CT também se liga muito, creio, com a minha maneira de ser, que não é melhor nem pior que a de outra qualquer pessoa, mas que me permitirá, eventualmente, sentir-me melhor nestes ambientes de trabalho, ao passo que, concerteza, pior noutros, onde outras pessoas se sentiriam melhor. Ok, muitas ideias a aparecer, mas não gosto de apagar o que já tinha escrito e posteriormente escrever como se estivesse já tudo cá dentro. Acho que ficou compreensível.

.

À tarde, depois das 16h fui ao centro, de carro, enviar os papéis para a Universidade, o meu currículo para o IDT, e para uma oferta de estágio na União Europeia. Continuo-o à procura de outras oportunidades, e vou concorrendo. Quanto mais procurar e para quantos mais sítios concorrer, mais probabilidade tenho de não parar. Há ainda a possibilidade de África, que me pisca o olho mas não me paga, e a Índia, idem ibidem.

.

Depois do almoço tive reunia com T1 e apenas um utente da fase Motivação, sendo que os restantes estavam doentes. Há sempre alguém doente aqui… A meio da mesma reunião, lá se juntou 1, que estava melhor. Durante a primeira parte da reunião, T1 continuou a falar das regras da casa. A dada altura fizemos um intervalo, e T1 demorou um pouco mais a chegar, pelo que fui falando com os dois residentes. Não sei como chegamos a esse assunto, mas ambos me diziam que tinham problema em lidar com a autoridade. Falamos do facto desse problema não ser raro nestes locais, mas na necessidade que há em o ultrapassar. Quando T1 chegou continuaram a falar do assunto, mas em NR. Percebi, contudo, em direcção a quem era sentida a raiva por parte de 1. Não me senti tão frustrado como na reunião de Quinta passada por não perceber de que se falava, pois na primeira parte da reunião estive a estudar NR, e na segunda a comunicação analógica era mais eficiente.

.

O almoço foi uma comida estranha qualquer, como tantas vezes o é. Antes dessa refeição estive com T1 a falar do plano semanal, e do funcionamento das Comunidades. Perdemo-nos facilmente na conversa, com alguma frequência, mas mantendo-nos no tema das CTs e das toxicodependências, pelo que não me importo, na medida em que a aprendizagem continua.

.

Tenho tentado perceber qual é, ou qual seria, o papel dum psicólogo aqui… Sinto alguma resistência por parte de T1 em relação à contratação de profissionais de saúde em detrimento de ex-toxicodependentes. Não é bem resistência, é mais um receio de que se perca o modelo, uma vez que muitos chegam e querem mudar um modelo que, efectivamente, funciona. Daí que pense no papel dum psicólogo numa CT como esta. Não existe psicoterapia individual. Diz-me que, claro, quando um residente lhe vem pedir para falar (apesar de ele não ser psicólogo, o que não terá de ser fundamental), não recusa, mas estimulam mais a ajuda entre os residentes. Pelo que me parece, há determinados tipos de ajuda que um profissional pode fornecer:

.

1) Ajudar os utentes;

2) Ajudar os utentes a se ajudarem;

3) Ajudar os utentes a se ajudarem uns aos outros.

.

Talvez por vezes o foco esteja demasiado no primeiro ponto. Se pensarmos bem, o terceiro ponto é o que mais facilmente alberga os outros dois. No caso de psicoterapia individual, o que acontece muitas vezes é, ao invés de se fazer com um psicólogo, o residente pede a um outro residente mais velho, e fecham-se numa salita a conversar. Acho que, enquanto psicólogo, e pessoa que não é assim tão estupidificada no que toca a perceber as relações entre as pessoas e da pessoa consigo mesma, podia contribuir muito mais se, claro, dominasse a língua, e pudesse assim intervir nas reuniões. E, também muito importante, perceber o que dizem entre si, no dia-a-dia, e não apenas o que me dizem a mim.

.

Antes da reunião estive a ler, e permanecia em mim uma réstia do sentimento da noite anterior. Contudo, ao longo do dia, sendo que estive sempre a fazer algo, que estive com os residentes, e com T1, o sentimento dissipou-se.

.

Não tenho é dormido muito bem. Demorei muito a adormecer. Já pensei se será por causa do café, que tenho tomado à norueguesa. Hoje contive-me um bocado e tomei só uns 6. O pior é que não sei se isso é muito ou pouco! Se soubesse quanto era um típico expresso português, fazia as contas para não tomar mais que o equivalente a 3. Porém, não me tenho sentido agitado, ou algo parecido… Enfim…

1 comentário:

pedro disse...

de cada vez que escreves uma passagem fazes sempre referencia que mais não seja implícita da maneira de ser dos noruegueses. a mim tem me dado a sensação de eles humanitários, pelos menos os teus colegas T's, não sei isso se aplica ao resto da população..