quinta-feira, 15 de maio de 2008

Mysen, 15 Maio 2008

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Tenho vindo a descobrir o que este período na Noruega vai significar para mim a nível interno. O que vou ganhar. Se sempre me considerei alguém aberto, sei que ter estado um ano na Finlândia, com pessoas de todos os géneros, voltei uma pessoa ainda mais aberta, respeitadora. Adquiri a filosofia do “é a cena dele”, que é bastante simples… Se alguém é de determinada maneira, gosta de determinadas coisas… é a cena dele. Desde que a sua cena não interfira com a minha ou com outros, é a cena dele, para quê criticar, julgar?...

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Da mesma forma, sempre me considerei alguém em contacto com os seus sentimentos. Sempre gostei de sentir, e sempre o fiz com algum sucesso, sendo, felizmente, a maioria desses sentimentos agradáveis. Porém, estar aqui, enfrentar uma solidão que em dadas alturas se faz sentir, faz-me estar ainda mais em contacto comigo mesmo. Não tendo tanta gente assim com que me abrir sempre que quero, sempre que me apetece, isso faz-me olhar ainda mais para dentro, e perceber o que por aqui vai… E sim, é verdade que tenho sentido alguns sentimentos menos positivos, mas são apenas aprendizagens, um tomar consciência do que existe, sabendo que não é nada dramático. Por exemplo, nestes últimos dias tenho-me sentido cansado, isolado, e por vezes a sensação de ver minutos a escorrer da minha existência, em vão. Falo dos momentos em que o horário de trabalho acaba, e passo as horas no meu escritório. Posso estar com os residentes, mas estão muitas vezes a trabalhar, muitas vezes a ver televisão, e sinto igualmente que, depois de um dia inteiro a conviver em Norueguês, a ouvir Norueguês, não me apetece olhar para um ecrã que me fala nessa mesma língua. De certa forma é como se entregasse todo o meu dia à Comunidade até às 17h, e depois queira entregar algum a mim mesmo. Porém, o eu mesmo acaba por ser só eu. Ao escrever isto penso se estarei a explicar bem, mas penso de seguida que o que interessa é que eu o perceba… o facto de publicar no blog é apenas uma consequência da escrita, não sendo esta a consequência dum desejo de partilha na internet… portanto…

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Assim, digo, basicamente, que sinto por vezes um leve desespero de não saber o que fazer, de ver os dias a passar uns atrás dos outros. Já não me preocupo com a minha utilidade aqui, esse é um obstáculo já ultrapassado. Tive, algumas vezes, essa crise que era a necessidade de me sentir útil… porém já descobri como o ser com eficácia, conjugando isso com a minha aprendizagem do sistema, com outros momentos bem passados. Todavia, ultrapassado esse obstáculo, outros vão surgindo, e por isso nomeio o contacto com essas sensações menos agradáveis como aprendizagens. O desespero, enquanto leve, nada mais é que um motor, como algo que nos orienta ara acção e descoberta. O desespero, enquanto grave, é algo que raramente na minha VIDA tive o desprazer de conhecer, devido a contingências naturais da minha maneira de ser, que expulsam esses sentimentos, conscientes da falta de necessidade que há em os ter.

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Comprei hoje a minha viagem para Birmingham. Vou dia 21 de Junho, Sábado, e volto dia 24, Terça. As viagens ficaram, no total, por dez euros, mas tive de dar quase outros dez só pela taxa do cartão de crédito!

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Amanhã é fim-de-semana, e será benvindo!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mysen, 14 Maio 2008

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Hi Pedro

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It was good to meet you last Tuesday, Andy, David and I have been talking about your application and would like to invite you for a second interview and to do three trial shifts. We would, because you are so far away do all of these at the same time. So, what I need to know from you, is, are you still interested? And when could you come?

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I know you are committed to Norway until July, is it the 25th? so if you could come before then that would be good, and we can see how it goes.

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The weather here how been absolutely glorious, very warm and very sunny, but not good for running in!

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Pois é… recebi este e-mail na Segunda-Feira. Estava à espera de algum contacto, para dizer fosse o que fosse, e enviei um e-mail a pedir algum feedback, tendo obtido como resposta estas linhas. Confesso que aquilo que já senti relacionado com isso é tudo menos constante. Primeiro, claro, senti-me entusiasmado. Apesar de tentar manter os pés no chão, é difícil não fazer planos, e quando dei por ela estava a ver que cursos ou pós-graduações podia fazer na Universidade de Birmingham… Depois, noutras alturas, dependendo de quem falo, de quem me dá outro ponto de vista, desço a um nível mais terrestre, imaginando que também terão chamado os outros candidatos. Aqui na Phoenix dizem que não o costumam fazer. Após a entrevista decidem experimentar um. Outras pessoas dizem que acham que mais gente terá sido chamada, e outras tantas acham o contrário. Claro que deveria ser a minha opinião a mais importante no comando da minha expectativa, mas reduzo-me à minha ignorância e inexperiência no campo, portanto é-me difícil saber o que esperar. Porém, tinha em minha posse algo que me permitiria ter mais alguma informação, que era o número de J., outro candidato, que mo deu dizendo para eu lhe dar notícias, quando soubesse mais alguma coisa. Assim, liguei-lhe hoje, e fiquei na mesma. Fiquei na mesma porque por um lado, foi chamado uma segunda vez, mas por outro lado, não vai fazer os três turnos. Disse-me que não estava interessado num trabalho a tempo inteiro. Agora que penso nisso, daí não ter sido chamado para os três turnos, pois mesmo que contratado, não vai fazer, por exemplo, tardes, ou dormidas…

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Isto porque, na sequência daquele e-mail, pedi mais alguma informação…

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Hi C.!

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Well.... to be honest, Phoenix sent me there as a spy, I was never interested in the job...

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Ok, just kidding. I was happy when reading your e-mail, and of course I'm still interested. Could you please provide me with some more details regarding the shifts? I can go before July the 25th, even some considerable time before, but if you tell me more or less how it goes, I can study the dates in order to be away the less time possible.

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Here the sun is kissing us everyday as well! Let's face it, nordic countries can be terrible in the winter time, but seeing a blue sky at 11pm is something that I wouldn't mind seeing in Portugal from time to time :) I guess over there the days are pretty big as well at this time of the year.

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Ao que recebi como resposta:

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Hi Pedro,

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Glad you're still interested. C. is away for the rest of the week so I'm afraid you're stuck with me!

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The three shifts would be three successive shifts worked over two days. We work two types of shift - day shifts which are 8am to 4pm, and evening/night shifts which are 3pm to 11pm, followed by sleeping in and doing the handover the next day, which is 8am to 9am.

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So, for example, for your three shifts, you could work from 3pm on the first day, sleep in overnight, work the whole of the next day - 8am to 11pm, sleep in overnight again, and finish with the 8am to 9am handover the next day.

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Or you could work 8am to 11pm the first day, sleep in overnight, then work 8am to 4pm the second day, and finish at 4pm. It doesn't really matter from our point of view when you do it as you will be an extra person on the rota, but it ought to be on weekdays so that you get the chance to be in at least one of our weekday therapy groups. So get in touch with some dates you can do and I'll check that they will work.

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In practice we usually get people working at a pattern of 3pm-11pm followed by 8am-4pm the next day.

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Pensei na melhor opção, que fizesse com que faltasse menos tempo ao trabalho aqui, e em princípio estou em Birmingham Sábado, 21 de Junho, trabalho das 8 da manhã de Segunda às 4 da tarde de Terça e volto no mesmo dia. Vai ser puxado, mas tudo bem. Para ser sincero, estou a sentir-me meio estranho. Já pensei se terá que ver com o telefonema, que me deixou, quem sabe, mais perto da realidade, mas sinto-me meio irritadiço, cansado, e… não é triste. Triste é uma palavra que usamos com muita frequência para descrever sentimentos “abaixo do normal”, assim como “estar em baixo”… Porém, como estou? Sinto-me de novo na corrida. Isto é, desde Segunda, que foi apenas há dois dias, encontrei-me menos preocupado em procurar empregos e bolsas. Fi-lo na mesma, mas apenas as que “tinha de fazer” – não aparecendo novidades em Portugal, não andei a saltitar de site em site a procurar oportunidades no estrangeiro. E assim, vou-me reunir um dia destes com uma senhora na Universidade de Oslo, para falarmos sobre estágios no estrangeiro. Uma parte mais audaciosa de mim pensou se esse “estrangeiro” podia ser Portugal! Quase de certeza que não. Ainda assim, sei, por exemplo, duma Comunidade Terapêutica de qualidade na Galiza. Se por algum acaso conseguisse aí um estágio podia vir a casa todas as semanas.

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Estar fora do país, longe de tudo e de todos que guardamos vai seguindo por etapas. São mais ou menos sempre as mesmas, alternando entre si, com a diferença de serem mais intensas. Noutro dia dei por mim a começar a sentir saudade. Alerta! – estou aqui só há três meio! Mas que posso fazer? Não dói, mas lembra…

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Por melhor que esteja aqui, sou apenas humano, e a solidão faz-se sentir por vezes. É cansativo não querer dar-me ao luxo de parar. Assim, tendo tido este contacto telefónico, que nem foi assim tão esclarecedor, de repente voltei a ver-me na Ásia daqui a meio ano, e não na Inglaterra… curioso é que, pensei, caso fosse para a Inglaterra, seria interessante a minha rota. Vivi um ano na Finlândia, depois mais perto, meio ano na Noruega, agora seria mais perto, X tempo na Inglaterra… e depois, Espanha?

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Ah! Vale a pena referir que agora a Ryanair voa directamente de Oslo para Birmingham, o que é óptimo, uma vez que poupo as quatro horas de Stansted para a cidade almejada, e mais cerca de vinte e tal euros para cada lado…

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Mudando de assunto, comprei a viagem para o Kidus, que vir-me-á ver numa Quinta à noite, dia 29, e parte novamente na Terça seguinte. Agora topem-me isto… Os voos são: 1) Porto-Madrid; 2) Madrid-Oslo; 3) Oslo-Madrid; 4) Madrid-Porto – tudo por cerca de 40 euros. Sim, tudo.

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Este fim-de-semana vai ser celebrado o dia da Noruega, dia 17 de Maio, Sábado. Aparentemente o dia anterior e o próprio dia (na medida em que é um Sábado) são dias de grande festa, em que cada Norueguês fica bêbedo. Bem, vamos para Oslo!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Tarje Pescou Um Peixe!

La Cabane!

Birmingham

Mysen, 11 Maio 2008

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É Domingo. Hoje acordei, acabei de arrumar a minha roupa, tomei banho, e vim para o escritório. Agora há pouco fui capturado e tive a jogar quinze minutos de volley com o pessoal, até que tiveram de ir fazer uma tarefa qualquer. Os fins-de-semana são sempre agradáveis, especialmente agora que o bom tempo chegou. Ainda não me habituei ao facto de serem onze horas da noite e o céu estar azul. Não me habituei, mas gosto. E até Julho, os dias cada vez são maiores!

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Pois na Segunda passada, acordo mais cedo que o costume, e preparo as minhas coisas para ir. Tinha pedido a Tarje que, depois da reunião matinal de equipa, me levasse, pedido a que acedeu. Já tinha tudo pronto, e contava que a reunião demorasse mais que as habituais, pois era o primeiro dia da semana, e ler-se-iam as anotações de todo o fim-de-semana. Porém, o “demorar mais”, estava a ser demasiado. Via os ponteiros do relógio a não serem nada tímidos à medida que galgavam os tracinhos que me lembravam que o tempo urgia. Dava sinais a Tarje, mas este dizia que ainda não podia sair, até que entregou os pedidos por que era responsável a outro técnico, e lá fomos. Quando cheguei à estação de comboio, vejo uma fila nada pequena, e um comboio pronto a partir a qualquer minuto. Cometendo um sacrilégio, passei, com um pedido, à frente das pessoas, e pedi um bilhete para Oslo. Tudo bem. Não. O meu cartão insistia em não funcionar. Que fazer? Vânia, residente que estava, por acaso, na fila, disse-me que me poderia emprestar dinheiro e eu podia comprar o bilhete no comboio. Ok, tudo bem. Assim, emprestou-me 500 coroas, e meti-me no comboio. Comecei, a dada altura, a estranhar, pois o “pica” nunca mais aparecia, e já íamos quase a meio da viagem… Fruto deste meu estranhar, olhei à volta, e qual não é o meu espanto quando descubro que estava numa carruagem para quem tem já bilhete. Advertiam que buscas aleatórias podiam ser feitas, e quem não tivesse bilhete seria multado. Esperei que parássemos novamente, e quando tal aconteceu, dirigi-me a uma carruagem onde se podia comprar o bilhete. Vejo o “pica”, sento-me, e quando começamos a andar novamente, ele passa por mim, olha ao redor, diz o nome da estação, e volta para trás. A ocasião faz o ladrão, é verdade. Claro que quando ele disse o nome da estação, no fundo estava a dizer “Alguém entrou aqui? Se sim, podem comprar o bilhete” – mas eu não percebi… ou fiz que não percebi. A questão é que faltavam apenas uns 20 minutos, e deixei-me ir…

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Correu bem. Quando cheguei a Oslo, encontro um ecrã que me diz que o autocarro para o aeroporto era daí a um par de minutos. Desço com o olhar o resto do mesmo ecrã e não encontro mais nenhum autocarro para o mesmo destino. “’Tou f*d*d*” – pensei. Desatei a correr, e quando o alcanço, com o olhar, vejo que já toda a gente está dentro do mesmo, e a porta das malas está fechada. Não que isso fosse um problema, eu não tinha mais que a minha Deep Blue (o nome da minha Eastpack), mas isso significava que estava pronto para partir. Todavia, o condutor estava em pé, e a porta aberta, e por isso, num salto, estava dentro do autocarro. O autocarro estava apinhado, com algumas pessoas na fila do meio, em pé. O condutor estava em pé, olha para mim de soslaio, toca-me nas costas, eu passo, e permaneço em pé, a averiguar se a minha impressão estava certa. Sim, era verdade, devia ser o meu dia grátis, porque ele não voltou a olhar para mim e sentou-se. Claro que viajar 1h45 em pé não é bom, mas poupar assim, duma vez, 170 coroas, faz com que valha a pena. Com a viagem de comboio e esta para o aeroporto à borla, poupei 35 euros!

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Estava cansado, e mais cansado fiquei. Quando cheguei ao aeroporto comprei uma calzone e uma coca-cola, e após este almoço, fui para as portas de embarque. Entra no avião, sai do avião, e passado cerca de duas horas estava em Londres. As linhas de comboio estavam em manutenção, e por isso não tive outra opção senão apanhar o autocarro para Birmingham. Mais quatro horas de viagem. Quando finalmente cheguei ao meu destino, constatei que estava a viajar fazia 12h. Dinheiro, tempo, cansaço, tudo por uma entrevista. Pensava se valeria a pena, e respondia ao meu própria pensamento com a certeza que apenas não valeria a pena se eu, por alguma razão, não conseguisse ir à mesma entrevista. Ainda assim… acho que percebo quando nos dizem que tudo vale a pena, pois mesmo que tudo corra pelo pior, é uma lição que tiramos, acerca das circunstâncias, e acerca de nós mesmos, da maneira como lidamos com a frustração. Costumo dizer que se viajar muito me deu estaleca e experiência, esses atributos manifestam-se geralmente quando as coisas correm mal. Continuo-o, apesar de já muito ter andado, a esquecer-me de coisas, a não contar com imprevistos… mas a leveza com que lido com isso quando isso acontece, o desespero que não sinto, e a cabeça fria que mantenho creio ser o manifestar dessa experiência. Experiência… quem me ouvir… tenho 24 anos!

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Uma coisa que constatei durante a viagem foi o número incrível de imigrantes que vi. Se aqui na Noruega o médio oriente abunda, em Inglaterra, apesar de também se mostrar sem medo, creio ser ultrapassado por África. Acho que, por exemplo, em Luton, em 10 pessoas via 3 ou 4 brancas! E agora o que se diz sempre: não que eu tenha algo contra pretos, não tenho! E o que se diz sempre, igualmente: Qual é o problema em dizer pretos? – Sim, e realmente, nós dizemos sem brancos, não dizemos ser claros! Então para quê usar o termo “negro”?

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Quando cheguei a Birmingham, não posso dizer que tenha ficado fascinado. E o meu sentimento deixou-me a pensar. Acho que sou meio desconfiado, a viajar. Em que medida? Não sei ao certo, mas tenho mais cuidado do que quando estou em Portugal. Talvez por isso nunca tenha sido assaltado, em 30 países. Mas ao mesmo tempo, creio ser normal ser mais cuidadoso quando num local estranho. Na estação de comboio, como mensagem de boas vindas, assisti a uma cena de pancada, com um gajo deitado no chão a ser pontapeado por outro. Curiosamente, esta cena não me deixou menos desconfiado… Apanhei o comboio, e passado 10 minutos estava em Selly Oak, à espera da minha anfitriã. Tinha enviado uma dezena de pedidos, e obtive mais respostas positivas do que esperava, pelo que combinei com a primeira pessoa que respondeu.

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Philippa era uma rapariga simpática, e após termos jantado e conversado um bocado, juntamente com a sua colega de casa, fomos até ao Goose Bar, onde estavam alguns dos seus amigos. Meio litro de cerveja a 1,5£ (menos de 2€) – já não estava na Noruega. Por ali ficamos cerca de duas horas. O pessoal era simpático, e imaginei se, caso conseguisse o trabalho em Birmingham, não poderiam fazer parte do meu círculo de amigos. Ou melhor, eu é que faria parte do círculo deles…

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Quando viemos para casa ainda estivemos a ver Tv um bocado, e depois fui dormir, no quarto duma amiga delas que estava de viagem. Estava cansado, e acordei, na manhã seguinte, igualmente cansado. Não sei se sabem, mas cá para mim o “estore” é algo que é proibido nos outros países. Na Finlândia tinha de me virar com uma cortina, aqui á e mesma coisa, e em Birmingham… Digamos que acordei dez mil vezes antes de me levantar. Mas, pelo menos aqui, está a tornar-se num sério problema. O dias cada vez são maiores, o que é fantástico, mas com o inconveniente de que o sol começa a dizer-me olá cada vez mais cedo. E a minha cortina desfaz-se em simpatias para com o nosso amigo, deixando-o inundar o meu quarto de luz, quando ainda tenho 3h de sono pela frente. A ver vamos…

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Fui com Philippa até ao Campus Universitário, que é porreiro. É engraçado ver o pessoal que não está tão habituado ao sol quanto nós… Se nós não pensamos muitas vezes antes de abrir as esplanadas, tampouco de as usar, este pessoal euro-nortenho é como o urso polar. Passa o Inverno enfiado em casa, mas mal o sol dá um ar da sua graça, movem-se em massa atrás da sua luz, como que ganhando energia para mais um Inverno de temperaturas negativas e dias curtos que se avizinha.

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Quando nos despedimos, dirigi-me ao centro. Não andei a fazer turismo, mas a cidade… não é propriamente Paris. Almocei uma baguete e uma coca-cola a um preço ridículo (vai de retro Noruega, sai!!) e apanhei um autocarro para a zona onde seria a entrevista. Andei uma meia hora a ver se dava com o sítio, e quando finalmente consegui encontrar, faltavam ainda quinze minutos para a hora estipulada. Ainda assim, receando que estivesse enganado (não tinha nenhum sinal na porta), decidi tocar.

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- Pedro! – diz-me Carol que, obviamente, me reconhecera pela minha fotografia no CV. Entrei, esperei um quarto de hora para acabarem de almoçar, e chegaram mais dois candidatos. Carol fez-me saber que seríamos quatro. Não sei se terão havido mais noutros dias, mas não creio. Também não sei quantas pessoas seleccionaram, mas a vaga foi bem anunciada, pelo que imagino que muita gente.

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Esperávamos N. a candidata que faltava. À minha frente Carol, directora de não me lembro o quê, parecida com a minha tia Graça, simpática e com um ar de tatuagens, à minha direita Andrew, director do serviço, nos seus trinta anos, sorriso simpático. Dos outros dois candidatos, um era T., nos seus 50 anos, camisa aos quadrados dentro das calças, cabelo ao lado – aquele arzinho médico que não adoro. J., por sua vez, era uma cópia muito bem feita de Gerard Depardieu, pelo que não vou dizer mais nada, além do facto de que me pareceu meio estranho. T. era terapeuta não sei onde, tal como J., que já tinha estado na Índia num programa psico-social de voluntariado, a ajudar as vítimas do tsunami. Senti, não uma certa inabilidade, mas uma certa ausência de vontade daquele jogo de auto-promoção. Sentia que diziam algumas coisas para mostrar o que tinham já feito, quem eram, coisas assim… Ah, e tínhamos-me a mim, imagine-se, de camisa (fralda de fora, deus nos livre!) – de resto tudo normal. Eu era o único com experiência em CTs, mas concerteza a pessoa com menos experiência a nível geral, sendo que tinha menos de metade da idade dos meus “rivais”. A dada altura chega N., rapariga dos seus 26 anos, e tive a instantânea sensação que esta estava de fora. Parecia-me muito mosca morta, e mais tarde, quando eu entrava para a apresentação, sou capaz de jurar que ouvi as pessoas dizerem algo como “podia estar melhor preparada”. Mas não sei…

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Antes da apresentação tivemos uma visita guiada pela casa. A CT é para 8 pessoas, e o objectivo não é curar dependências mas destina-se a pessoas com outros problemas mentais mais abrangentes. Note-se: não é ara doidos ou coisa do género, mas para pessoas que não tiveram o mesmo ambiente ao crescer como muito de nós, e que sentem hoje em dia as consequências de nós. Depois da visita tomamos café e chá todos (os 4 candidatos mais os 2 técnicos) na sala, e tivemos uma espécie de sessão aberta onde podíamos colocar algumas questões. Talvez por ser a pessoa com mais experiência em CTs, fui quem colocou mais questões. Senti-me, desde o primeiro momento, num bom ambiente, e deixei-me à vontade, sendo eu, com as inevitáveis espontâneas piadas. Sem abuso, não se preocupem. A minha apresentação seria a terceira, e enquanto os outros iam tendo a sua, ficávamos na sala a conversar.

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Mas eis que chegou a minha vez. Ao entrar na sala vejo Andrew w outra senhora cujo nome não recordo, e uma residente. Tinha apenas dois dossiês com os tópicos que desenvolveria, e optei por dar um à residente, e outro aos dois técnicos para partilharem. Não foi à toa. Não segui à risca os tópicos que tinha alinhavado, mas acho que correu bem. A minha maior preocupação era o meu inglês, que apesar de muito bom, não é de alguém que nasceu e viveu na Inglaterra, mas quando disse que, caso achassem necessário, poderia ter aulas de inglês, disseram que achavam não haver nenhum problema com o meu domínio da língua.

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Confesso que ao deixar a Comunidade, vinha com a sensação de ser o favorito. Mas agora, quanto mais tempo passa, menos o creio. É normal fazermos isto, e quanto mais tempo temos depois de situações como estas, mais atentamos para pequenas coisas que possamos ter feito ou dito mal, e a confiança desvanece um pouco. Vim com J. no autocarro. Este tinha-me pedido para esperar por si, e podíamos ir juntos para o centro. Isto relaciona-se com algo em que achei que N. e T. estiveram mal. Depois da sua entrevista, T. foi embora, sem dizer nada; N. apareceu por um segundo na nossa sala para ir buscar a sua carteira, e desapareceu igualmente, mal se despedindo. Estranhando, Carol perguntou se Andrew estava a mandar as pessoas embora. Este disse que sim, mas mesmo assim, se fosse eu, não por graxa, mas por simpatia e cortesia, nunca me iria embora sem me despedir do resto do pessoal. Enfim.

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Agora um pormenor um tanto ao quanto bizarro. Estamos a conversar acerca do método usado na CT em Birmingham, Análise Transaccional, e dizem que apenas outra Comunidade no mundo usa o mesmo método, sendo uma na Índia. Ao dizer isto, Carol não estava certa da localização, mas queria dizer Bangalore… Ora… Se não se recordam, tenho como objectivo, na eventualidade de não arranjar nenhum emprego, de ir para a Índia fazer voluntariado numa CT para pessoas com esquizofrenia, com quem já entrei em contacto… em Bangalore. É a mesma! Qual é a probabilidade!?

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Despedindo-me de J. no centro, fui para a estação de autocarros e pensei. A minha mente oscilava entre a decisão de ir directamente para o aeroporto, ou ver as modas em Londres. A decisão não foi difícil. Assim, 3h depois, estava em Londres. Estava cansadíssimo, e pensava se não daria uma volta e ia para o aeroporto. Parte de mim queria, mas geralmente não dou muita atenção a essa parte… Londres é uma cidade excelente. Quem sabe no meu top 5… se bem que tenho de voltar a Paris e “estudá-la” melhor. Sei que Estocolmo, Praga e Roma encontram-se neste top. Depois, não sei… Nova Iorque também merece uma segunda visita… Bem, como dizia, andei por Londres, e pensei em sair, beber uns copos e curtir um bocado. Após jantar no Mac, passo num quiosque, e lembro-me de comprar uma garrafa de vinho. Pergunto ao paquistanês se havia problema em beber nas ruas, e ele diz que sim. Pensei uns minutos, e descobri uma solução bastante ardilosa! Há pessoal que leva a bebida em sacos, mas isso não é assim tão discreto… Que fiz? Voltei ao Mac, saquei um copo dos grandes, uma tampa e uma palhinha… perfeito!

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Sentei-me nas escadas que rodeiam a estátua de Picadilly, e a ver as modas, fui bebendo o vinho. De seguida, não sabia muito bem para onde ir, até que sou interpelado por um par de raparigas a distribuir panfletos, e descubro o meu destino. Sports Bar – 2 andares, um sem número de televisões, bilhares, matrecos, uma pista de dança porreira, bom ambiente, e cerveja (0,5) a 1,90€! No centro de Londres! Nunca pensei dizer isto, mas a Inglaterra é barata! Ah, e viva o euro….

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Quando era hora, apanhei o autocarro e fui para o aeroporto. Estava estafado, mas dormir seria perigoso. Podia não acordar e perder o avião, pelo que comprei algo para comer e fui comendo, tomando o meu tempo. Entra no avião, sai do avião, entra no autocarro, sai do autocarro. Não paguei mais uma vez a viagem de comboio, o que é sempre bom! E pronto, Quarta depois do almoço estava aqui!

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Hoje é Segunda. O fim-de-semana foi porreiro e mais longo do que eu pensava. Porquê? Hoje é feriado!! E eu não sabia e acordei às 7h30! Pobre eu…

domingo, 11 de maio de 2008

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Mysen, 9 Maio 2008

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Tenho estado ausente, eu sei. Na verdade, tenho estado, não só ausente dos posts, como também da Comunidade. Não, não estou a faltar, não se preocupem. Simplesmente este será, em princípio, o primeiro fim-de-semana que aqui vou passar desde há uns tempos.

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No feriado do dia do trabalhador, bem como no fim-de-semana passado fui, novamente, pescar. Desta vez não pesquei tantos, mas foi porreiro. Ainda que com… ia escrever stress, mas não posso dizer que me tenha sentido stressado. Na Sexta sim, senti algum stress, mas depois tudo voltou ao normal. Passo a explicar… Andava à espera dum e-mail da CT em Birmingham. No feriado estava um pouco às voltas, na cabana do Tarje, sem acesso à internet, e sem saber se tinha sido chamado ou não. O único problema era que estávamos a pensar ficar lá na Quinta e vir para a CT na Sexta de manhã, e caso me chamassem, convinha comprar as viagens o mais cedo possível. Pois entrei em contacto com o meu irmão, este disse-me que não tinha nada, e por lá fiquei. Mas eis que, Sexta de manhã, ao chegar à CT, tomar banho, e me sentar frente ao pc, um dos primeiros mails que recebo do dia é a confirmação que tinha sido “shorlisted”, e que a entrevista seria na Terça-Feira seguinte, às duas da tarde. “Podiam-me ter avisado mais cedo…” – pensei. Desatei a procurar voos, mas com o constante pensamento de que não poderia preencher a vaga imediatamente, e que não me tinham respondido à questão sobre este assunto. Decido ligar, e quando digo que não poderia começar a trabalhar “o mais cedo possível” como tinham dito, dizem que têm um membro que irá sair (em princípio) em Julho, e que calhava bem… então pergunto se deveria ir nessa Terça, ou mais tarde, e dizem-me para ir na mesma na data pré-estabelecida.

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Sentia-me um pouco a mil, sem saber bem o que fazer, que datas escolher… Sentei-me no pc, e pensava nos dias que escolheria. Consciente de que não seria um problema ausentar-me da CT por um ou dois dias, não cedi à tentação de fazer destes “um ou dois dias”, “dois ou três”, ou mesmo “três ou quatro”. Enquanto procurava voos vi, literalmente, os preços subirem dum minuto para o outro. Regra de ouro para quem quer viajar com low-costs: o truque não está em comprar com 10 anos de antecedência, simplesmente não comprar a 3 dias da viagem…

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Assim, reservei a minha viagem de ida para Segunda-Feira às 14h, e a de volta para Quarta às 6h25, pagando um total de 140 euros, se não me engano. Escolher estas datas tomou o seu tempo, e como depois da reunião da casa iria com Tarje pescar, sentia algum nervosismo. Porém, houve algo curioso… Apesar deste nervosismo que refiro não se ter feito nunca sentir de uma forma muito incómoda, estava eu na reunião da casa, e digo a este meu colega: “Estou preocupado…” – ele olha para mim, e pergunta, naturalmente, o porquê. Mas quando lhe digo esse porquê, ouvir-me a dizê-lo fez-me rematar imediatamente de seguida: “Mas preocupado para quê, a VIDA é fácil” – e é. Ou melhor, na maior parte dos casos, na maior parte das vezes em que nos podemos sentir a nadar em stress, preocupados… a solução é simples. Que é que eu podia fazer? Escolher uma data, e marcar. Feito. Bem, que não se pense que estava a desesperar, porque não estava. Simplesmente, em tanta vez não há porque deixar de… curtir.

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Marquei a viajem, pesquisei no site deles, e imprimi a maior parte do conteúdo do mesmo, bem como um estudo que me enviaram acerca da CT-alvo, e de todos os e-mails que me enviaram. Estava assim preparado para me preparar.

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"Connect provides a specialist service of high quality psychotherapy which supports clients to develop the emotional, psychological and practical resources to live independently of mental health services. What skills and qualities would you bring to your work as a staff member here to help achieve this? Please illustrate your presentation with examples of how you have developed and demonstrated these skills and qualities."

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Nesse mesmo dia, Sexta, ainda fomos pescar. Imaginem-me com uma cana de pesca na mão, estendido no barco, e um bloco de folhas na outra, a ler e a tirar apontamentos… interessante. Passamos o resto do dia muito bem. As filhas de Tarje, o marido de uma, e três netos, vieram passar fim-de-semana à cabana, e eram, tal como o progenitor do par de norueguesas, malta porreira. Eram dez da noite e estava, com Tarje e suas filhas, na parte de fora da casa, no Jacuzzi, com o sol a despedir-se no horizonte, o lago como companhia e a natureza como anfitriã.

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Após tomarmos banho, passamos o serão todos juntos na sala. Eu e Tarje bebemos uma garrafa de Aquavit, uma bebida norueguesa. Não foi fácil, mas foi uma noite divertida, deixem-me dizer… Pena que, como sempre, após um certo tipo de noites divertidas, ao acordar temos de perceber em que planeta estamos! Assim, basicamente o acordar foi sair da cama, deitar-me no sofá, e por ali ficamos mais duas horas, entre copos de coca-cola, filmes, e sonecas. Litro e meio de coca-cola depois senti-me subitamente bastante melhor, bem como o meu anfitrião, que assim se devia sentir há já algum tempo. Fomos pescar, não pesquei nada. Quando voltamos trabalhamos um bom bocado, e o serão de Sábado foi passado com a bela arte de nada fazer. Ver televisão, petiscar, relaxar.

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No Domingo, da mesma forma, pescamos e trabalhamos. Eu ia lendo o que tinha de ler, e alinhavei alguns tópicos que poderia desenvolver, mais tarde, na apresentação. Assim, nesse mesmo dia, tendo chegado à CT e tomado banho, o fim. Posso partilhar. Não os vou desenvolver, mas podem ficar com uma ideia do que tinha planeado falar.

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I. Dynamic Psychology

Studies: Masters Degree in Dynamic Psychology

a) Dealing with Borderline Personality Disorder

Focus on the past

Drug users and BPD – Drug as a symptom

b) Research concerning hallucinations

Quantitative vs. Qualitative view

Spectrum of pathology

c) View on different areas in Psychology

Person vs. Theoretical background

d) Research

Good teacher who taught me that details matter

Investigation in Phoenix Haga

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II. Me

a) Why Therapeutic Communities?

b) Why I want to work in a TC

Every moment with a therapeutic potential

People with a problem / People as a problem

Same level as the residents

Help; Self-help; Mutual Self-help

c) Qualities Needed to be a Good Member of a TC

Human

Caring

Committed

Attentive

Seeing beyond what is being said

Not to ask for, or expect perfection

Feelings

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Segunda-Feira acordei mais cedo que o costume. E a saga de Birmingham, continuá-la-ei noutro post, para não saturar os meus caros amigos…