segunda-feira, 10 de março de 2008

Mysen, 7 Março 2008

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Não! Não morri, estou vivo! Bem vivo!

São 21h48, e fui correr há pouco. Estou com aquela sensação porreira. Os músculos relaxados e a mente a acompanhar. O dia teve os seus momentos… não de tristeza, mas aquele sentimento de alguma frustração… típica de querer ajudar e ver as coisas difíceis. É que o islandês, doravante chamado Oliver, queria ir embora. Gosto dele, assim como gosto de quase todos os residentes e, na medida em que nos envolvemos, custa ver alguém decidido a desistir mais uma vez… Envolvo-me com estas coisas, e isso geralmente faz-me sentir bem. Mas por vezes nem por isso. Claro que não me arrependo da entrega, de pensar que todos se vão safar. Afinal de contas, e como já tantas vezes disse, é melhor sentir, seja o que for, que não sentir. Falei com ele, ele disse-me coisas que não vou escrever aqui… vi-o depois falar com sua mãe, com o seu “irmão mais velho” da casa, o tempo a passar e as malas à porta. Antes de falar com ele, porém, tinha um sentimento estranho de não saber bem o que fazer. Como aqui na casa os residentes têm a importância que têm na melhoria uns dos outros, via-o, ao fundo, a fumar o seu cigarro, e não sabia se deveria falar com ele ou não. Lá achei que mal não ia fazer, e fui falar com ele. Permaneceu com a mesma opinião, e quando o deixei estava convicto que ia deixar o programa.

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Contudo, Ta vem falar comigo, cerca de uma hora depois, e diz que fruto de algum “pressing” seu, da mãe de Oliver e do seu irmão mais velho, este vai acabar por ficar. Fiquei contente, claro. Neste ano apenas desistiram 2 residentes ainda, o que é bom! J

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Agora… porque é que estive tanto tempo fora? Sim, por causa dos Jogos de Inverno…

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Eis que chega Segunda, e consigo a certeza de ir passar os próximos dias num sítio diferente, de maneira diferente! Vou no carro com mais 3 residentes, e passado umas 5 horas, chegamos a Renavanger! A primeira impressão foi de algum espanto. Com o passar dos dias percebi que as condições, apesar de muito boas, não serão até tão boas como as nossas. Porém, tudo tem um aspecto muito acolhedor. As paredes são de madeira, por dentro e por fora, têm lareira, piano… enfim, é um espaço porreiro e confortável. Isto, claro, apesar de estar deslocadíssimo de tudo! Na brincadeira, digo a não sei quem que a taxa de desistências de Renavanger tem de ser muito baixa, porque primeiro que consigam chegar à civilização…

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Ao longo das viagens, tanto de ida como de vinda, foi crescendo em mim, creio, algo que já tinha nascido, que é alguma paixão por este país. Gosto do que vejo. Não quero, mas faço-o, e comparo-a com a Finlândia. Não o quero fazer, porque não conheço assim tanto a Finlândia, como sei que vou conhecer, no final, a Noruega. A primeira ganha com o facto de ter mais lagos, mas a segunda, apesar de não ter tantos, tem bastantes, e o terreno é mais acidentando, esbarrando a vista, frequentemente, com uma outra montanha. Quem costuma ir para sítios como a Serra Nevada e afins provavelmente rir-se-á de mim, mas a verdade é que nunca tinha visto, até anteontem, o cume duma montanha completamente branco, sugerindo bolo com uma imaculada cobertura de açúcar… e é demais! Especialmente acompanhando, descendo com o olhar a encosta da montanha, e acabando num lago, num rio, seja no que for, mas num imenso espelho feito de água. Pois agora só imagino como será quando for num barquinho pelo meio dos fiordes…

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Não me falam mal de Oslo, e eu tampouco o faço… contudo, têm-me falado muito melhor de Bergen. Talvez seja como Lisboa e o Porto… os turistas vêm para ver Lisboa, muitas vezes sem saber que perdem uma cidade espectacular (não digo melhor, isso é… relativo) apenas uns 250km acima… Assim, aguardo o dia em que conhecerei essa cidade, e aguardem comigo, pois prometo um feedack pleno de informação e sugestões.

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Continuando, lá nos instalamos. Ao contrário do que pensava, não ia ficar num hotel, mas num quarto com mais 7 residentes, dormindo no chão. No problem! Mais tarde Ts veio-me perguntar se eu queria ficar noutro sítio com mais espaço, mas disse que estava bem. E realmente estava. Para dormir tinha um mero espaço de 2 por 1 metro, um colchão tão alto como uma pestana, mas estava bem. E não me arrependi. Sempre gostei das “pillow talks”, que apesar de, neste caso, curtas, sempre arrancavam umas risadas. Sobre as risadas… ao longo destes dias, e como costumo fazer, fui bastante “eu”. Com as minhas palhaçadas, os meus abraços, enfim, as coisas que costumo fazer, a maneira como costumo ser. Nunca fui de me colocar numa posição superior aos residentes, tentando ser quem sou, dentro do aconselhável, para que assim sejam comigo, também, quem são. Apesar disso, sinto que me respeitam. Isto é, apesar de tudo, e desta condição tão especial que é o facto de viver aqui, não me vêem como um residente. Não superior, mas diferente. Claro que por vezes é necessário relembrá-los… Apesar de dizer “por vezes”, apenas me recordo dum episódio… Foi lá em cima, e nem é nada de mal. Foi lá em cima, em Renavanger, quando faziam as equipas para o volley, curling, etc. Alguém se lembrou de perguntar se eu queria jogar, e toda a gente se agarrou com unhas e dentes a esta ideia. Tive de insistir muito, mesmo muito, dizendo que não jogaria pois eram os jogos deles! Foi difícil, mas lá perceberam.

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Quanto às competições, houve:

1) Volley na neve – todas as equipas ganharam 2 jogos e perderam outros 2, por isso todos trouxemos todos para casa um diploma de primeiro lugar;

2) Curling – Não trouxemos nenhum prémio (foram entregues do terceiro ao primeiro lugar)

3) Construções na neve (idem, ibidem)

4) Ski (idem, ibidem)

5) Peça de teatro (idem, ibidem)

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Pois à primeira vista até parece negativo, digam lá… Mas o facto, que até é bastante óbvio, é que ganhar não interessava. O cliché o que interessa é participar nunca se aplica tão bem como em casos como estes. MAS… é sempre bom ganhar, óbvio! E foi por isso que toda a gente se sentiu feliz em ter ganho o prémio que, na minha opinião, acaba por ser o mais importante. Falo do prémio de “Best Fellowship”, melhor irmandade (esta tradução sugere-me algo que falhará, eventualmente, um pouco, no significado). De facto, guardo na minha memória, e guardarei sempre, a imagem espectacular de ver Liam a correr com os skis, tentando ir o mais rápido possível, e os restantes membros da Phoenix, residentes ou técnicos, a correr ao lado dele a gritar, rir, e dar força! Muito porreiro. Era uma espécie de estafeta, em que os residentes iam apenas com um ski, e sempre acompanhados, ainda que não fosse obrigatório, por todos os amigos a apoiar. O outro prémio que ganhamos vai na mesma linha deste, e até é mais engraçado, que é o prémio de “Melhores Perdedores” J De facto, durante os jogos éramos bastante suportativos, sempre a gritar e cantar, e no final, quando perdíamos, batíamos palmas e estávamos contentes na mesma. Correu tudo perfeitamente, até ao último dia, em que Evelyn (sim, nome fictício… a minha mãe disse que apenas com números as pessoas perdiam toda a dimensão humana…) entrou numa onda menos boa, chorando e queixando-se disto e daquilo. Outra situação surgiu, até irónica, mas pronto…

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8 de Março 2008

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Ontem não tive oportunidade de acabar o post. Neste fim-de-semana não vou sair de Mysen. Tive toda a semana fora, e para a semana acho que vou ter uns dias, por isso aí vou dar uma volta. Diferente.

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Um outro aspecto que me fez apreciar a viagem foi as conversas que tive com alguns residentes. Conversas com mais substrato, daquele tipo de conversas que me fazem sentir mais “psicólogo” e, sinceramente, que até tenho jeito para isto. Foi mais com o pessoal que fala melhor inglês, mas ainda assim foi muito porreiro.

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Detalhes que mereçam ser referidos, sê-lo-ão em posts futuros. Não quero uma injecção de dezenas de páginas só porque estive uma semana sem escrever.

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Abraço.

1 comentário:

Catarina M disse...

Gostei. É descontraído.