sábado, 1 de março de 2008

Mysen, 1 Março 2008, 13h02

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Olá meus amigos… Eis que hoje é Sábado e me encontro nesta bela cidade (será? nem sei…). Como não fica barato ir todos os fins-de-semana à capital optei, como acho que já aqui disse, ir só a cada 15 dias. Quando arranjar uma bicicleta, pedalar não custa dinheiro, por isso, e quando o tempo começar a aquecer, planeio mandar-me mais ou menos sem destino todas as semanas, munido de um saco de cama e um sorriso. Até lá…

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Além do mais, não há problema, pois esta Segunda vamos aos Jogos de Inverno, por isso sempre se muda de ares.

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Ontem foi um dia em que me senti particularmente excepcional. Refiro-me àquele momento que é tão meu, e que por regra me deixa a sentir bem, mas por vezes me deixa a sentir-me fora de mim…

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Como depois do almoço nos reunimos para a reunião da casa, onde está sempre presente um apetitoso bolo, sentia-me ainda, à hora em que costumo correr, com o meu estômago pesado, pelo que decidi adiar a corrida. Para o dia seguinte, ou para umas horas depois. Veio o jantar, e com ele mais uma refeição que me fez comer mais do que devia, fazendo-me ver, portanto, essa corrida mais distante. Porém, o relógio passeava pelas 20h quando sinto o chamamento. Vou lá fora, e descubro que está a chover. Não me demove. Vou ao quarto, equipo-me, vou buscar um colete luminoso, presenteio o meu leitor de mp3 com o fantástico Pablo Honey, grande álbum dos Radiohead, e lá vou. A noite estava particularmente escura, e naqueles momentos em que me embrenho no mato, quase nada via. Contudo, correr, sentir o coração a bater mais forte do que o costume, sentir as veias pulsar de satisfação, ouvir músicas esplêndidas, sentir as gotas de água acariciarem a nossa face juntando-se ao Vento que esporadicamente me atravessava… fazia-me sentir mais vivo que nunca! É algo indescritível, posso apenas tentar demonstrar o que sentia, mas eu próprio já o vejo a algumas horas de distância, e sinto que tanto fica por dizer…

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A dada altura sinto algo doer-me no ventre. Não me preocupo, mas paro, quedando-me no mesmo sítio por uns minutos. Sentia a água escorrer pela minha face, olhava à volta e via campos desertos, uma imensidão de nada, que me fazia, ironicamente, sentir no meio de tudo, como parte de tudo. A dor desaparece e faço-me novamente à… estrada, aumentando o meu ritmo a cada passada.

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Quando chego à Phoenix, venho pela parte de trás, e fico no jardim a fazer os meus alongamentos. Escolho “Black”, dos Pearl Jam, ao vivo em Portugal, em 2006 (agora que penso nisso, já foi há tanto tempo??),concerto que teve a minha voz como contributo, no meio de outros tantos milhares… tiro a t-shirt, ficando de tronco nu, e deito-me na mesa de madeira, que me recebe, fria. Ah!!! Só queria ter algo em que escrever, na altura. Ouvia a música, que nesta versão se prolonga por uns belos 8 minutos, sentia a chuva espalhar-se por todo o meu corpo, o Vento gélido que me fazia arrepiar, e um largo sorriso se esboçava no meu rosto. Acho que é esta a minha droga. Tentar sentir ao máximo! Abraçar as sensações, trazê-las para dentro de mim, fazendo nascer os mais incríveis sentimentos! É algo extraordinário. Claro que o facto de nunca ter sido dado a doenças ajuda, já que estavam uns 3 graus, chovia, e eu estava de tronco nu, ao Vento, após ter corrido meia hora. Enfim. Fiquei a sentir-me lindamente para o resto do dia, com aquele cansaço confortável a habitar os músculos, que emprestavam ao cérebro a mais saudável sensação de relaxamento.

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Na manhã desse mesmo dia, após a reunião matinal e a reunião de equipa, encontrei-me com Tr no seu escritório. Ia lá apenas para imprimir o resto que me faltava dos primeiros 2 módulos do “TC Curriculum – Participant’s Manual”, mas nem sei bem porquê, começamos a falar, e encetamos mais uma conversa de uma hora e tal. Gosto mesmo dele, é um gajo porreiro, que sabe muito, viveu muito, mas que também sabe que é humano. Acho que, no que diz respeito a apreciar alguém e ser apreciado por alguém, melhor que ser apreciado, é ser apreciado por quem apreciamos, coisa que neste caso acontece (acho que nunca usei tantas vezes o mesmo verbo numa frase…). Falou-me de si, de mim, e do que de mim achava, de si, de alguns residentes, etc.

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Depois do almoço tivemos a reunião da casa. O bom ambiente do costume, acompanhado do café e bolo foi coroado pela apresentação final da peça que prepararam para os Jogos de Inverno. Apesar de não perceber bem o que dizem, dá para perceber que está muito engraçada. Como já referi, quando um residente sente que quer partilhar algo, apenas pede a atenção, e instantaneamente toda a gente se cala, ouvindo. Pois 1 pediu a atenção, a dada altura, e começou a falar. Pareceu-me ter percebido uma palavra que se revelaria nuclear, mas não me fazia sentido, por isso achei ter percebido mal. Todavia, quando se cala, toda a gente permanece calada a olhar para ele, e, um ou dois minutos depois, um par de residentes dirigem-lhe a palavra com um tom empático. Quando se acaba por mudar de assunto pergunto o que se passava, e sei que tinha percebido bem essa tal palavra… 1 tinha descoberto, no último fim-de-semana, em que tinha ido a casa, que tinha uma filha de 3 anos!... Heavy…

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Depois da reunião da casa, e do jantar, estava na sala de estar com alguns residentes, quando percebo que ia ter lugar uma reunião. Deixei-me ficar, e soube que era o “Weather Report”. Um a um, e por ordem, todos os residentes partilham com o resto do grupo como estão, e como se têm vindo a sentir. Quando chega a vez de 2, americano, fá-lo em inglês, e mais uma vez confirmo o quão melhor seria se percebesse o que dizem… No final, olharam para mim, para surpresa minha, e perguntaram: “And you Pedro, how do you feel?” – não estava à espera, mas respondi à pergunta, dizendo que me sentia muito bem ali, a semana tinha corrido bem, apesar de na Quarta me ter sentido como me senti… mas que isso não é necessariamente mau, sendo que os momentos em que estamos menos bem nos podem ajudar a reflectir sobre as coisas que nos fazem sentir bem, e nos recordam que somos humanos, existimos, e nem tudo é, sempre, perfeito… isso e o facto de quando estamos mal poder ser uma maneira de melhor apreciarmos quando estamos bem. Sempre pensei isto… não sei se será uma estratégia para estar melhor quando menos bem, ou…

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À noite, após ter falado cerca de 45 minutos ao telefone com o meu primo João fui para o quarto ver o “Este País Não É Para Velhos” – recomendo.

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Hoje de manhã aconteceu-me algo incrível! Acordei, podia levantar-me nesse momento, sendo que o sono não abundava, mas usei e abusei dos lençóis, entregando-me tanto tempo quanto possível, até que tinha mesmo de me acordar. “Txi, já devem ser prai uma hora”, pensou o pobre português. Pois quando liguei o computador descubro serem 9h57! Acho que nunca me tinha acontecido “dormir tanto” e acordar tão cedo! É o hábito…

2 comentários:

Catarina M disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catarina M disse...

someday you'll be a star =)