segunda-feira, 28 de abril de 2008

Mysen, 27 Abril 2008

.

Este fim-de-semana foi um fim-de-semana diferente. Não diferente dos outros que tenho tido por aqui, mas diferente do que qualquer outro que já tive, posso dizer. Isto pois foi o meu primeiro “fim-de-semana” de pescaria! Quem me conhece bem sabe que a pesca nunca foi dos meus desportos favoritos… Porém, Segunda-Feira passada, não sei porquê, perguntei a T. Álvaro: “’Tão, quando vamos pescar?” – ao que ele respondeu dizendo que não gostava de pescar, afirmação que recebeu como comentário a minha solidária concordância, mas com a questão de “Porque não?...”. De qualquer maneira, ele não podia, pois tinha a festa de confirmação de um dos seus sobrinhos, festa essa que imagino ser algo como uma espécie de comunhão, mas… não sei. Assim, coloquei a T. Tiago a mesma questão, recebendo eu como resposta: “Sexta… Vamos Sexta e vimos Domingo. Tens saco-cama?” – ok! Estava lançado. T. Tiago tem 54 ou 56 anos (não me lembro bem), e é um porreiraço. Tenho pensado neste facto curioso. É que aqui tenho amigos num espectro de idades muito alargado. Aqui na Comunidade tenho algumas pessoas a quem posso chamar de amigos, e as idades prendem-se entre os 46 e 54 anos; em Oslo as pessoas com quem vou estando têm, na maioria, entre 20 e 27 anos, mas o Iraniano, por exemplo, tem 40 e poucos, apesar de não o parecer. Outra coisa é que me parece que o pessoal mais velho, aqui, não parece assim tão mais velho… Quando partilhei esta ideia com T. Álvaro, ele não concordou nem discordou, mas trouxe luz para algo em que tinha também já pensado. É que o ambiente Comunidade Terapêutica e os seus respectivos trabalhadores também é um pouco diferente dos demais. Outra coisa, em que não pensei na altura, mas em que penso agora, é que diferentes pessoas associam-se com diferentes pessoas… E é a primeira vez que estou a trabalhar assim “mais a sério” apesar de ainda não ser a cem por cento. Mas, apesar destes factores que me deixam a pensar duas vezes, continuo com esta ideia…

.

Assim, chega Sexta-Feira, e tinha planeado ir com T. Tiago às 14h. Não compareceria à Reunião da Casa, mas não haveria problema. Primeiro porque sim, era uma vez apenas… Depois porque eu faço uma espécie de horário D0,5… Explico: O horário de dia, isto é, o normal, é o horário D, e postula que uma pessoa trabalha das 8h30 às 16h. Mas há sempre alguém que começa mais cedo, sendo esse o horário D1, e segundo o que segundo o qual a pessoa trabalha das 7h30 às 14h. Eu normalmente começo às 8h. Mas estou a desviar-me… Saímos daqui então às duas horas, e no início da viagem, que teria como paragens a sua casa e um hipermercado, recordo-me de pensar até que ponto seria assim tão agradável o fim-de-semana. Sabia que seria agradável, mas… não estava muito confiante quanto ao inglês de T. Tiago, e não nos conhecíamos assim tão bem…

.

Quando paramos no hipermercado compramos uma data de coisas que nos manteriam para o fim-de-semana. Na minha inocência, não percebia como cozinharíamos algumas das coisas que compramos se íamos acampar… e quando lhe perguntava, ele respondia, com um sorriso: “Em água quente!”. Ok.

.

Bem, é melhor dizer já, para não preocupar o pessoal (hehe), que o fim-de-semana não só não foi “simplesmente agradável”, como foi muito porreiro! T. Tiago é, como imaginava, uma pessoa excelente, com um inglês que não traz consigo nenhum obstáculo na comunicação, engraçado e inteligente. E, como rapidamente (…) percebi, não íamos acampar, mas ficar na sua cabana no lago. Entenda-se por cabana, uma casa que só não o seria na perfeição por ter o WC no exterior. Efectivamente, a cabana é espectacular. Ao entrarmos estamos, passando o pequeno hall, na cozinha, que se estende por um corredor de dois metros. A sala de estar é grande, e à sua direita tem um quarto. A varanda é grande e tem uma mesa e dois sofás onde o pessoal se pode sentar. No sótão encontramos 6 ou 7 camas que dão para cerca de 8 pessoas. Tem ainda uma cave, e uns anexos, onde encontramos alguns utensílios e o WC.

.

Quando chegou a altura de pagar, no hipermercado, perguntei quanto era, e T. Tiago disse que não era nada. Eu insisti em pagar, mas disse que não. Uns momentos depois disse, como até já tínhamos falado algumas semanas antes, que tinha um trabalho para fazer, e que se eu o quisesse ajudar, me podia pagar. Eu, claro, vi ali uma oportunidade de ganhar umas dezenas de euros, e acordei prontamente… Não! Ao invés, disse que teria todo o prazer em ajudá-lo, e que não teria de me pagar por isso. Não por ter pago os mantimentos, simplesmente porque… não.

.

Após distribuirmos os nossos mantimentos e roupas pelos locais apropriados, tínhamos diante de nós uma horita de pescaria. O meu entusiasmo não estava nos píncaros, mas estava interessado. Facto é que, como disse, nunca fui grande fanático de pesca, mas por outro lado sempre fui adepto de novas experiências. E ao chegar À cabana, e ver o lago a estender-se por largos quilómetros, e o seu pequeno barco a nos aguardar, percebi que seria porreiro, quer pescasse, quer não pescasse. Ainda assim, nessa viagem que durou uma hora, pescamos dois peixes, e fui eu quem os pescou! Quando voltamos para casa, cozinhamos, partilhamos uma garrafa de vinho, e descontraímos um bocado na varanda, com o sol, ao fundo, a dizer adeus. No serão vimos o terceiro Pirata das Caraíbas, filme que T. Tiago tinha em DVD. No final, o anfitrião retirou-se, e eu fiquei mais uma hora a navegar nos canais, até que fui para o sótão, onde me estendi na primeira cama.

.

No dia seguinte, Sábado, acordei quando o relógio repousava nas nove e meia. Pequeno-almoço tomado, vestimos os pesados e quentes fatos que T. Tiago tinha destinados apenas para a pesca, e fomos. Andamos cerca de duas horas. Tiago, numa ponta do bote, comandava este, e eu, na outra, estendido ao comprido com as pernas de fora, deixava-me estar, aguentando a esfomeada cana. Via o cenário passar, desse país que tem tudo para me deixar com saudade no final, via os belos pássaros de espécies variadas atravessar o lago, e sentia-me bem. Íamos conversando acerca de tudo um pouco, e assim o tempo passava sem pressa, mas sem peso. Quando voltamos, após um leve almoço, fomos trabalhar. Na primeira hora, com o auxílio de um carritel para cada um, mudamos para dentro da cerca a madeira que se encontrava uns metros adiante, eventualmente perto do sítio onde fora cortada. Fizemos uma pausa, bebemos uma cerveja, e na segunda hora fomos ao carro buscar seis paletes, colocamo-las onde receberiam, mais tarde, os troncos cortados para secar, e começamos a cortar alguns. Na minha ignorância, perguntei qual a necessidade de os cortar ao meio, se já estavam finos, ao que ele me respondeu dizendo que era necessário para que assim secassem. E as paletes tinham como objectivo fazer o ar circular também por baixo.

.

Quando acabamos, voltamos à pescaria. Não sei se foi desta vez, mas posso dizer que no final do fim-de-semana pesquei cinco “pikes” (não sei o nome em português), e os dois mais pesados tinham mais de quatro quilos cada! Após o pesado e norueguês jantar, passamos o serão no relax, na sala, a ver um par de filmes.

~

No Domingo chegou a parte pior, que nem foi muito longa. O arrumar tudo. Sempre pensei que, se dependesse de mim e fosse possível, preferia chegar a um sítio, desfazer as malas e preparar o que tenho a preparar, e de seguida fazer tudo o que se faz antes de ir embora, para que assim, quando tivesse de ir embora, apenas tivesse de ir. Era porreiro… arrumar, desarrumar para ganhar os créditos, e depois poder estar completamente à vontade… Bem, mas no domingo ainda fomos pescar uma hora e pico. Depois arrumamos tudo e viemos embora. Ah! Todos os peixes que pescámos eram devolvidos ao mar. Porém, eu queria experimentar o peixe, pelo que guardamos um, que eu amanhei (pela primeira vez), e cozinhamos. Toda a gente me dizia que não era bom, mas na verdade, é… mais um peixe. Não é delicioso, mas não é mau. E convém dizer que foi simplesmente cozido. Quem sabe se tivesse já em minha posse o que agora tenho (25 maneiras de cozinhar “pike”) seria ainda melhor. Mas sou português, e talvez seja essa a razão pela qual gostei do peixe. É que Portugal é o país europeu que mais peixe come, comendo 75 quilos cada pessoa ao ano. Isso e… tenho uma boca santa, vai tudo!

.

Ao voltarmos, passamos pela Suécia, pois T. Tiago queria comprar tabaco, e eu queria comprar algumas coisas. Comprei mantimentos no valor de 35 euros, e mais uma vez ele pagou. Desta vez não queria mesmo aceitar a sua recusa em receber a minha metade. Uma vez é uma vez, mas mais que uma vez pode tornar-se regra, e a regra torna-se sempre em abuso. Ele disse que não, e relembrou-me duma conversa que tínhamos tido sobre um altura em que ofereceu algo a alguém, essa pessoa não queria receber e ele disse: “You shall not take away from me the pleasure to give”. Depois disse, a brincar, mas a sério, que assim podia pedir-me para o ajudar mais vezes. Eu disse que o ajudava sempre que precisasse, e que não tinha de me pagar. Mas pronto, ficou assim.

~

Já é Segunda hoje. Passei o dia em casa do Islandês, juntamente com o seu “irmão mais velho” e a sua mãe. O Islandês quer vender a casa, e por isso tem de tirar tudo o que tem de lá. Era preciso um membro do staff acompanhá-lo, e coube-me a mim. Era para ir hoje, como não tenho norueguês, com T. Jan até Halden, apanhar a sua bicicleta e vir, ao longo de três horas e meia, a pedalar para cima, mas T. Ricardo disse que eu era necessário para o karting, pois eles eram apenas três, e assim estou agora no seu carro. Além do mais, T. Ricardo falou com T. Tiago e este empresta-me a sua bicicleta, pelo que não tenho de pedalar 50km para arranjar uma.

.

E pronto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que fim de semana ecológico! Que grande pescador. Eh pá, tens de me ensinar a pescar, ou será q e tanto peixe q n e preciso grande arte?