sábado, 26 de janeiro de 2008

Norway

Sábado, 26 Janeiro, 15h28
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Acabei de chegar. Ou melhor, cheguei há 20 minutos. Depois de uma grande noite em Oslo, acordei, comi alguma coisa, apanhei o comboio, e estou em Mysen (acabei de adicionar esta palavra ao dicionário do meu word…). Ouço a Elephant Gun, e tento ganhar coragem para arrumar as minhas coisas. Sinto-me estranho, mas acho que no bom sentido.
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Quando cheguei a Mysen, andei um pouco aos tropeções tentando encontrar alguém que porventura soubesse onde era a CT. Tive sorte com a senhora da loja da estação, que fez o obséquio de ligar para as informações e pedir o número. Deixei Oslo com a ideia de que procuraria o número na internet numa qualquer loja. Pois ao chegar pergunto a uma rapariga local onde o podia fazer e esta responde-me que não conhece nenhuma loja de internet. “Hum, pode ser isto um sinal do quanto no interior estou?”, penso, com um sorriso dúbio nos lábios. “Bem, não há mais conhecer uma cultura que isto!...”, penso de seguida. Lá liguei, e lá me vieram buscar. Interessante que o primeiro contacto que tive com esta comunidade disse-me imediatamente o quão diferente seria da CTAI. É que quem me veio buscar, de carro, foi um residente.
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Quando cheguei, tornou-se oficial esta ideia que tinha do quão diferente seria. Não me interpretem mal, toda a gente sabe o quanto adoro a CTAI, mas parece-me que aqui as condições são outras. Fui encaminhado pelo utente até ao meu quarto (“Not a big room, but…”) e sorrio, por dentro, ao ver um quarto que, apesar de não ser do tamanho do que tinha na Finlândia, agrada. Acho que não sou muito exigente nestas coisas… Tem uma cama, uma mesinha e uma cadeira em frente. À direita, ao fundo, uma secretária com um candeeiro simpático, onde antevejo muitas horas de escrita; e finalmente, também à direita, mas à entrada, um lavatório. Não preciso de mais. Ah, e uma janela nem por isso pequena, que me apresenta, do outro lado, o verde do jardim, o castanho de algumas árvores e, ao fundo, o vermelho dum enorme celeiro.
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Depois de conhecer as habitações que me aguentarão pelos próximos 6 meses, sentei-me na cama. Estático. A minha mente esvoaçava. Por um lado, pensava onde estava. Apesar de ainda na Europa, sinto-me distante. Não só por não estar na cidade, mas também, e talvez especialmente, por estar on my own. Não há amigos de Erasmus no quarto seguinte, não ninguém com quem possa falar a nossa língua em lado nenhum. Acho que
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[Acabam de bater à minha porta. Ao abrir, vislumbro um rapaz de cabelo preto espetado e olhos azuis, que me diz, com um sorriso, “This is for you!”, ao entregar-me um livro onde posso ler “Teach yourself Norwegian”, o que era exactamente o que precisava. Diz-me ser dos EUA, e que pode ser o meu professor de Norueguês, pois sabe os passos que é necessário dar. Sorrio e agradeço. Gosto de pessoas. Diz-me que o jantar é às 18h (Norte…) e despede-se]
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é necessário este tipo de experiências. Ajudam-nos a perceber melhor o nosso próprio funcionamento e a testar e perceber os nossos próprios limites. Não que isto seja uma experiência radical, não estou propriamente a trabalhar no Sudão, com refugiados, mas é, em si, uma experiência nova. E isso vale por si só. Pensava há pouco que não existem más experiências… depois pensei outra vez e percebi que não é bem assim. Simplesmente acho que, ainda que uma experiência corra mal, há sempre algo a reter, a aprender.
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Não tenho internet, o que não é muito bom. Há internet no escritório, e mais tarde averiguarei se posso dispor sempre que quiser. Pensava há pouco que, apesar de ter o salário minúsculo que tenho (para quem está num dos países mais caros do mundo), se puder ficar aqui na CT os 6 meses, e se não pagar também comida, posso ter sucesso em ter a minha primeira experiência como independente dos pais financeiramente. Posso até, quem sabe, comprar um daqueles aparelhos de internet 3G. A ver vamos.
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Ontem
Ontem fui acordado por Sam e Olívia, que se queriam despedir. Tinham de ir pois iam ter um teste de português. Disse-lhes que adorei tê-los conhecido, o que é bem verdade, e agradeci tudo o que me deram, sugerindo que me dessem uma oportunidade para “devolver” um dia em Portugal. Passado mais ou menos uma hora despedi-me de Luke, que ainda insistiu para eu ficar para a festa, e de Max, que me disse que não seria o mesmo sem mim, ao que fui obrigado a responder dizendo que apenas estive lá uma semana. Cheguei bastante cedo ao aeroporto, pelo que tive de esperar umas horas. Levanta voo, aterra. Noruega! Pela janela do avião, momentos antes, não conseguia perceber se nevava ou não. Achei curiosos os meus próprios sentimentos, pois por um lado queria que nevasse, por outro lado não. Talvez dum lado estivesse o meu cérebro, que sabe que a neve é muito bonita e tudo, mas cansa e dificulta; do outro lado o meu coração, que apenas fixa a parte da neve ser muito bonita e tudo, e também, talvez por almejar algo o mais diferente possível. Conclusão, vê-se alguma neve, mas o tempo não está… nevoso (?)… Após ter levantado dinheiro, já que não havia nenhuma loja de câmbio para os meus 50 euros, apanhei o autocarro, e estava em Oslo às 23h25. Não sabia se a minha anfitriã, que me respondera nesse mesmo dia, estaria em casa, pois tinha dito que ia sair, pelo que eu estava um pouco na dúvida. Ainda assim, após andar às voltas com duas malas pesadíssimas à procura do sítio onde apanhar o autocarro, lá segui as direcções até sua casa. Um rapaz que conheci na paragem disse-me onde deveria ir e assim, passado um pouco estava em frente ao seu enorme e moderno prédio. Passava um segurança, que me abriu a porta, e subi até ao oitavo andar. Mal abro o elevador, vejo passar alguém no corredor que me parecia ser Marie. Era mesmo. Estavam a ter uma festa qualquer, e perguntou se eu queria sair. Como eu nunca digo que não a estas propostas, e apesar de ser já meia noite, fui buscar uma garrafa de vinho que comprara no aeroporto, e juntei-me à festa. Tinha muita gente de outros países, e o pessoal era todo muito porreiro. Fomos de seguida a um bar bastante underground, onde se pagava apenas 6 euros para entrar e a cerveja (33cl) custava “apenas” 6 euros. Portugal – 1 euro por 33cl; Liverpool – 4 euros por 50cl; Noruega – 6 euros por 33cl. It’s Evolution Baby! De qualquer maneira, a música era fantástica, dum house não muito suave, mas não muito agressivo. Gostei mesmo de lá estar, e começou a nascer, acho eu, uma paixoneta por Oslo. Veremos…
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Bem, vou arrumar as minhas coisas…

2 comentários:

Anónimo disse...

Oi,
Estou realmente vislumbrado com toda a sua escrita! Deve ser fascinante conhecer um país novo, cultura estranha e pessoas diferentes.
Adoro escrever também. Só que usar apenas a imaginação para criar histórias é meio complicado!
Acompanharei sua saga com convicção! Rs.

Uma pergunta: O que te levou a Viajar pela Europa. Foi apenas emprego ou simplesmente uma nova aventura?

Anónimo disse...

Olá meu amor! Fico feliz por teres chegado bem. * Pela frente tens mais uma aventura, mas desta vez mais a sério, a trabalhar e, como tu próprio disseste, "on my own"... vai ser uma experiência diferente! Mas que tu vais aproveitar ao máximo, disso tenho a certeza. *
Beijo muito grande :)