segunda-feira, 21 de julho de 2008

Sento-me com o computador à minha frente. Espero pelas palavras que não vêm. Espero pela imaginação que, preguiçosa, se faz difícil e, lamentando-se, me diz que desta vez vou ter que escrever sobre mim. Perto do fim, num primeiro momento, que não conheci esta cidade como deveria… mas cedo percebo o pouco que há para conhecer. Estranho sentimento. Não gosto, mas gosto. Gosto de agitação, de pessoas a passar, ouvir gargalhadas e ver cabelos a esvoaçar. Porém, tenho de admitir que o deserto que Mysen é acaba por ser, ao mesmo tempo, reconfortante.

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Saio da Comunidade e voo na bicicleta. Compro um Daim e uma Coca-Cola. Pelo caminho corro pelas ruas sem nada nem ninguém, apenas uma pessoas de vez em quando para dar a eventual ilusão de que há pessoas aqui a viver. O Vento sopra devagarinho, apreciando eu os seus beijos na minha pele. Sento-me ao lado de três bandeiras da Noruega, numa mesa de madeira. Ao meu lado duas crianças, filhas de uma senhora da Europa do Leste que come uma pizza, brincam animadas, inocentes. Pouco sabem da VIDA. Da mesma forma, pouco eu sei. Quem sabe menos, pois quanto menos sabemos, menos ilações erradas retiramos do que quer que seja. Pouco sabem da felicidade que terão, das tristezas que enfrentaram. Pensam pouco e são felizes. Eu penso muito e sou feliz. Engraçada esta equação, em que partes tão distintas têm um resultado aparentemente igual. Mas quantas facetas terá a felicidade? Que roupa veste o sorriso de cada pessoa?

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Estou a três segundos de casa, a seis dum novo país, duma nova aventura. Os residentes chamam-me, na brincadeira, de traidor, alguns pedem para não ir. Não sei até que ponto partilho esta renitência em partir. A experiência foi cem por cento valorizada, creio que nem por um segundo me arrependi de ter partido. Quem sabe a consciência de um voltar a médio prazo amenize alguns sentimentos.

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Houve momentos de solidão, de paredes pesadas, mas apenas um pequeno preço a pagar por tudo o que aprendi. Sinto, por um lado, que cheguei ontem, e por outro, que cheguei há anos. Mergulhei nesta cultura, sem nunca abdicar da minha, duma forma que me permitiu ver o tempo escorrer rapidamente, queimando seis meses num segundo. Estou mais velho 2.4% do que quando cheguei. Vi e fiz coisas que vou lembrar para sempre, devo ter mudado algumas coisas, e entrei em contacto com sentimentos que até então apenas tímida e distantemente se mostravam. Este futuro já foi, e um novo presente me aguarda, expectante, a cada segundo que passa.

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São 19h13, e sinto-me bem. Desta forma irrepreensivelmente norueguesa, o tempo surpreendeu, e se passei a tarde com frio, a usar casaco quando dentro do escritório, agora, cá fora, sinto uma leve e amena brisa passear, vaidosa, entre a minha pele e a minha camisola, deixando em mim um leve sorriso invisível. Este não-saber do clima norueguês tem essa dupla face… Ou me faz sentir que quero estar em Portugal neste preciso instante, ou me faz sentir bem, quando menos o espero. Assim o é qualquer tipo de surpresa. A maneira como se manifesta sempre influenciará a maneira como a vemos. Vou para casa.

1 comentário:

Rita Cipriano disse...

voltei a encontrar-me com o teu blog. continuo a gostar muito do que aqui se escreve.