terça-feira, 10 de junho de 2008

Mysen, 10 Junho 2008

.

Volto à escrita no dia de Portugal. No dia de Portugal estou longe do mesmo, e com planos de continuar. Efectivamente, pelo menos o Plano B começa a desenhar-se. Sendo que o Plano A é ficar em Birmingham, o Plano B é ficar aqui mais uns mesitos. Sei que é assim que o pessoal imigra por anos e anos, apenas ficando “mais um tempito”, mas no meu caso seria mesmo isso. Acho. Já o Plano C é o plano inicial, que consiste em passar Agosto em Portugal e rumar à Ásia nos últimos 4 meses do ano. Pensando bem, o Plano B e o Plano C são mais ou menos conciliáveis...

.

Pois digo que o Plano B se começa a desenhar porque o Tony disse-me ontem para eu tratar dos papéis para poder trabalhar aqui. Simples. Disse que ainda não era nada garantido, pois ainda não tinha discutido com a gerente do departamento financeiro, mas que podia ficar aqui como ajuda extra em Agosto e Setembro e que se fazia bom dinheiro. O que eu disse foi que estava à espera da resposta de Birmingham, ao que ele respondeu perguntando se não lhes podia pedir para começar mais tarde. Disse-lhe a verdade, que estou um pouco sem saber como estou, mas que mal tivesse informação mais consistente diria. A ver vamos…

.

Mas o Plano C também é porreiro. Passar 4 meses na Ásia, sim senhor… Tenho pensado muito nisto, como na verdade sempre o fiz. Em procurar com mais habilidade o que nos faz felizes. Ainda que tenha vontade de ser eterno, sei que nunca o posso ser. Sei que, nem que os meus livros vendessem à escala de Shakespeare, um dia a própria humanidade perecerá, e então será simplesmente como se nunca tivéssemos existido. E será que existimos realmente? Será que não somos fragmentos do sonho duma pessoa qualquer a quem gostamos de chamar deus? Seja como for, sendo a VIDA tão efémera e eventualmente inexistente como é, acho que devemos usar isto não como mais uma fonte de depressão mas, pelo contrário, fazer mais aquilo que nos apetece. Ter o nosso rumo, e se este não magoar directamente as pessoas ao redor, siga! Vivemos de memórias, e no fim, o então presente para nada mais existiu que para a construção das mesmas…

.

Bem, mas dispersei. O que de diferente tenho a contar? A Graciete esteve cá, estou a trabalhar agora com a equipa de reinserção, e Oslo no Verão é fantástico. Mas uma coisa de cada vez…

.

Ter a Grace cá foi algo fantástico. Confesso que, na noite anterior, esperava uma ansiedade que não vinha, e isso assustava-me um pouco. Ou melhor, vinha, mas era-me estranha. Como pensador que (julgo que) sou, estes sentimentos, ou ausência deles, fazem-me… pensar. Porém, no dia seguinte, por volta das 9 da manhã, comecei a ser invadido por um sentimento de alegria extrema, que me fazia, mais que cantar, sorrir abertamente, e sentir-me como se estivesse bêbedo, mas sem estar zonzo. Todo eu era diversão e bem-estar. Assim, deixei a CT com o T. Hallvard e fomos até sua casa, onde passamos umas horas a conviver. O relógio foi lesto e quando dei por ela estava a despedir-me para ir para o centro.

.

Acho que não vou contar em detalhe tudo o que fizemos, mas posso dizer que nesse dia a Grace chegou e ficamos em casa do Toralv. No dia seguinte andamos pela cidade, assim como o fizemos nos restantes. Saímos à noite, curtimos, visitamos sítios, convivemos, viemos à CT, enfim… de tudo um pouco, numa visita melhor explicada pelas fotografias, concerteza. Mais importante do que aquilo que fizemos, foi aquilo que sentimos. É espectacular o facto de me sentir eternamente com 16 anos em momentos assim. O que se sente antes, o que se sente durante, e a minha maneira de sentir o que sinto depois. Digo a minha maneira pois talvez não seja tão normal, ou habitual. Por exemplo, se a Graciete, à sua maneira, fartou-se de regar o mundo com as suas lágrimas, no momento em que nos despedimos e me deixou, eu, por outro lado, não me senti triste. Digo isto sem medo de ser mal entendido, pois na verdade não há razão para tal. Claro que não fiquei nos píncaros, nem o meu nível de alegria subiu, ao vê-la partir, mas continuei a sentir-me bem, pensando nos dias passados. De facto, sentir a presença de alguém com quem rimos à vontade, abraçamos à vontade, nos faz miminhos nas costas (quase) sempre que pedimos é algo que tenho de dar valor. E dou. Pensei noutro dia… será que, de uma estranha maneira, estes esporádicos períodos de ausência que temos um do outro, mantêm a chama acesa? Não que ache que alguma vez se poderia apagar, mas refiro-me a tão acesa quanto há 8 anos… porque o que mais me deixa maravilhado é o facto de me sentir tão apaixonado como quando começamos a namorar. Claro que na ausência a saudade disfarça a paixão, sentimos uma através da outra… mas na presença podemos abraçar completamente a segunda, tê-la de frente e olhar bem, atentando em cada pormenor…

~

No que ao trabalho diz respeito, agora estou, como era previsto, a trabalhar com a equipa de reinserção. Como o meu Norueguês, naturalmente, está melhor agora do que há dois meses, e muito melhor que há quatro, acho que esta pode ser a fase em que mais aproveite e mais contribua, sendo que já vou percebendo bastante. Contudo, vejo o meu Norueguês como o exercício duma pessoa no circo que equilibra vários pratos… explico: começa uma reunião, e vou percebendo o que é dito. Agarro-me com força às palavras e elas fazem sentido dentro de mim. Porém, quando não percebo uma frase, parece que se destrói tudo, e fica muito mais difícil retomar o fio à meada, assim como o equilibrista, se deixa cair um prato, f*deu-se! Na semana passada já participei num grupo (terapêutico) que, apesar de ter durado 3h, se revelou menos pesado que os outros em que já participei. Quem participa nestes é o pessoal da Fase 2, Fase 3, e os elementos mais velhos da Fase 1, que preparam a sua evolução no tratamento. Os elementos da Fase 3 têm grupos quinzenais, ao passe que os restantes elementos têm-nos semanais. Pois acontece que, apesar dos elementos serem igualmente confrontativos nestes grupos, tal como o são na Fase 1, nota-se uma energia diferente. Basta dizer que, ao entrar na sala, vemos toda a gente a falar, inclusive a falar entusiasticamente, enquanto que, ao entrar na sala antes dum grupo com a Fase 1, está tudo calado, ou a falar baixo. Eu que o diga, que o hoje estive num Grupo de Contacto. Antes de este começar, quase podia cheirar a tensão no ar…

.

Ontem tive uma reunião com T. Sturla, que me explicou tanto quanto é possível explicar em uma hora acerca do funcionamento da reinserção. Já tinha percebido que o sistema é muito bom, e é especialmente aquilo com que em Portugal muitas CTs apenas podem sonhar. Tem outros custos, mas vale a pena. Está muito bem estruturado e assenta tanto quanto possível na ideia de que se deve ajudá-los a andar, muito mais que empurrar a cadeira de rodas…

.

Depois da reunião fomos visitar as duas casas onde vivem os elementos da Fase 2. Nesta Fase, muito mais independente, os residentes já trabalham (começam na Fase 1), geralmente um horário normal de 35h, são encorajados a arranjar hobbies e passatempos e são mais independentes. Por exemplo, podem deitar-se às 4 da manhã, se lhes apetecer, desde que cumpram com as suas obrigações. Têm, como disse, grupos semanais, e também conversas com outros residentes e elementos do staff. Efectivamente, depois da visita às duas casas, reunimo-nos com Marco, que estava a passar um mau bocado e, sentados lá fora, conversamos por uns três quartos de hora. Hoje tenho mais um grupo. De manhã tive o Grupo de Contacto, tenso como sempre, e tenho hoje às 18h30 um grupo com a Fase 2 e os elementos mais velhos da Fase 1. Estou numa fase em que tento conciliar as actividades que já tinha com as novas. O staff da reinserção trabalha ora das 8h30 às 16h, ora das 15h às 22h30, e isso faz com que eu consiga estar em várias actividades. Isso, logicamente, faz com que passe muito tempo ocupado, como por exemplo à Quinta, em que estou no activo das 8h às 22h30 com um par de horas de pausa aí no meio. Mas tudo bem, não há crise.

~

Agora o outro tema que abordei… Oslo no Verão. É realmente fantástico. Já pensei se estou a exagerar, mas se estou, paciência, não me importo. É muito fixe porque a temperatura é perfeita, as pessoas mudam, a cidade tem iniciativas porreiras, e isto faz-me sentir bem, e com vontade de ir para lá todos os fins-de-semana, e gastar muito dinheiro… E um pormenor interessante é que, não só no Verão tudo parece mais bonito, como também quando na companhia de turistas, como era a Grace, vemos as coisas com outros olhos. A cidade é pequena, e há melhores, sem dúvida, mas tem prédios e casas com arquitecturas muito porreiras, um parque muito porreiro, cheio de estátuas, e muitos outros que, apesar de parques normalíssimos, se enchem de ursos polares nos dias de sol, especialmente nos fins de semana. Sim, para mim os Noruegueses assemelham-se aos ursos polares. Nos dias de sol saem o máximo, aproveitam cada raio de sol, como que ganhando energia para depois vir o Inverno, enfiarem-se em casa, e ninguém os ver. Até já uso isso como verbo… por exemplo, no outro dia compramos umas cervejas, e face a possibilidade de irmos para o parque, perguntei:

.

- So, are we going polar-bearing? – he he he.

.

Quanto às iniciativas, no passado Sábado, por exemplo, foi o dia da música, e havia concertos por toda a cidade, ao ar livre. Andei com Toralv de concerto em concerto durante um par de horas, e depois encontramo-nos com uns amigos seus e ficamos um bocado no parque. Posso dizer que estava cem por cento em harmonia com tudo. Um concerto de reggae, que apesar de não ser o meu estilo, nestes ambientes é sempre porreiro, pessoal fixe, tudo estava bem. Conhecemos ainda um par de CouchSurfers de Singapura que Hamid, o iraniano, malta porreira.

.

A dada altura, Toralv e eu deixamos o grupo, para irmos ver Portugal. Entramos no primeiro bar, e apesar do canal mostrar coisas relacionadas com o Europeu, a hora passava e nada… eles procuravam o canal, a olhar para um guia de tv como um cego para a Angelina Jolie, e a minha frustração a aumentar… conclusão: deixamos o bar, corremos para outro, mas não sei porquê, nada aparecia! Acabei por ver só a segunda parte… L mas paciência.

.

No final do jogo fomos para o Mono, um bar. Tínhamos conhecido no parque um pessoal que nos tinha dito que iam passar Indie Rock nesse mesmo bar mais tarde, e sendo este estilo de música um estilo que aprecio, decidimos ir até lá. Valeu a pena, o ambiente estava muito fixe.

.

Já escrevi 5 páginas, acho que me vou ficar por aqui por hoje. Abraço. Vou tentar publicar as fotografias.

1 comentário:

pedro disse...

bem passado em mês voltas em grande...e tenho de concordar quando me dizer que Oslo no verão é muito bom...onde é que aqui em Portugal se faz disso, quer dizer fazer faz-se mas tens de pagar...eeheh...continuação de boa estadia!!